quarta-feira, agosto 24, 2011

Pergunta ao Lado

Duda, meu filho já de dezasseis anos [como o tempo passa..!] pergunta-me se acho que ele está preparado para a sua primeira experiência sexual.
Meu filho errou totalmente a questão.
Haveria que me perguntar mas era isto:
«Pai, achas que tu estás preparado para que eu tenha a minha primeira experiência sexual?!»

após contar 3 míseros "gosto" num texto absolutamente genial

o parco número de "gostos" que merecem os meus textos mais brilhantes no facebook ilustra bem a frase de cristo: «muitos são os chamados, mas poucos os eleitos»

terça-feira, agosto 23, 2011

não sei se pode chamar-se-lhe teimosia...

Daisy faz tudo o que a mãe diz - mas, em geral, só quando está com o pai; e faz tudo o que o pai diz, mas nunca quando está com este, e sim quando está com a mãe.

Mãe e pai de Daisy são suficientemente diferentes um do outro para que isso seja, por vezes, muito complicado...

terça-feira, agosto 16, 2011

sim, bem sei

Citando Millôr Fernandes, um cara absolutamente genial:

«Quando um político grita que outro político engana o povo, você preste atenção: é impossível ele ocultar completamente um leve traço de inveja»

domingo, agosto 14, 2011

a importância dos pormenores

Suponho que nunca antes se pensou nisto.
Eu sei que a cor vermelha não é a verdadeira causa da reacção dos touros. Mas não está provado que não seja provocadora de lobos.

Por que raio é que uma menina que quer passar despercebida ao lobo da floresta, levando o lanche à sua avozinha, sozinha, por aqueles caminhos perigosos, haveria de se vestir com um capuchinho Vermelho!? E logo vermelho, uma cor de tão eróticas conotações. Que pouca-vergonha!

A menina era menor? Então e a mãe? Não queria saber de nada disso, mandou-a dali para fora [se calhar para receber um homem em casa], não controlava o que a filha vestia, e, depois, que esperava...?

Há outra coisa que a história não revela explicitamente, mas é fácil reduzir a duas possibilidades.

Uma avó não pode ser confundida com um lobo mau. A não ser que:
a) a menina fosse mais do que míope, quase cega,
ou
b) a avó fosse muito feia (e peluda...)

Não me agradeçam. Fico satisfeito por ter podido lançar uma nova luz sobre pormenores que, pelos vistos, preferem esconder-nos

segunda-feira, agosto 08, 2011

aforismos kaosticos e patéticos... se não patetas...!

sinto que ontem encontrei a metáfora exacta para a vacuidade da vida: estava a tentar varrer as folhas do chão, num quintal ventoso...

quarta-feira, agosto 03, 2011

ANTÓNIO JOSÉ SEGURO: UMA BIOGRAFIA EXAUSTIVA

Não sei por que razão se tem especializado o PS em dar tiros no pé.
Ao princípio, foi Sócrates. E digo bem: «ao princípio», porque o líder se encarregou de fazer tábua rasa de todo o passado do partido, sobretudo no que, nesse passado, cheirava a esquerda.
Sócrates foi, portanto, como um novo princípio do partido - princípio que, por sinal, era quase o fim do PS.

Neste segundo momento, enquanto Sócrates foi um instantinho a Paris estudar o antigo Sócrates, o partido teve de se decidir entre duas figuras bizarras: Francisco de Assis seria a «continuidade»: em muito mais feio, sempre com a barba por fazer e um horroroso tique no ombro. Despacharam-no, ainda bem.

Restava Seguro. Lamento que o PS fosse, no fundo, chamado a escolher o mal menor. Porque há que não esquecer: o mal menor é sempre, e apesar de tudo, um mal.
Seguro é um «apparatchick». Nunca deu aulas, nem lavou pratos, nem se dedicou ao jornalismo. Não creio que, na adolescência, tenha participado, ao menos, em «trabalho de férias para jovens». Suponho que nunca estudou. Enfiou-se na Juventude do PS e, adequando-se rapidamente às estruturas do aparelho, lá foi percorrendo o seu caminho, vagarosa e prudentemente, sem arremedos nem fantasia, sem riscos nem coragem, sem palavras que se lhe notassem. Esperando, só. Esperando que se chegasse a um ponto em que já não sobejasse mais ninguém para ser escolhido. Faz lembrar um pouco o Pacheco, aquela adorável figura de Eça de Queirós, que de tal modo se mantinha silencioso, que foi gerando, em torno de si, expectativas que o guindavam sempre para mais alto. Pacheco tinha uma testa que falava por si. «É a testa de um pensador!»; Seguro tem aqueles olhos de cão magoado. E, precisamente, fala de afectos e de mudança. Tem tudo para ser um líder vitorioso: sobretudo, a mais total e absoluta ausência de ideias.

A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ANTES DE ESTAR NA MODA

Há séculos, antes, portanto, de se inventar a designação «inteligência emocional», e de se lhe ter definido uma área fundamental no universo da psicologia, e de se terem desatado a escrever tratados acerca da questão, o velho Kant já tinha esgotado o assunto. Para ele não se tratava de um problema «psicológico» nem «emocional», mas de um problema «moral»: sintetizou-o num desígnio, sob uma fórmula simples, que cito de memória: «saber sempre colocar-se no lugar do outro».

terça-feira, agosto 02, 2011

e quando a pior das hipóteses, a que não se prevê, é que se realiza?

Passo estes dias sozinho em casa com meu filho.
Entretanto, meu primo esteve em Portugal para umas curtas férias. Combinámos que ele e a irmã iam, à noite, chez moi tomar um copo.
Como sou um péssimo cozinheiro e ando com o dinheiro contado, gaguejei ao telemóvel que viessem jantados - numa tremenda prova da má-educação a que o desespero pode levar as pessoas. [Não conseguia imaginar-me cozinhando uma refeição aceitável para receber convidados, nem podia gastar demasiado em comida feita: como raio chega um tipo aos cinquenta e tal anos sabendo pouco mais do que grelhar um ovo, se é o que se faz ao ovo...?]
Ficou claro entre nós: «Vamos então para uns copos», serenou-me ele.
Fui com o meu filho ao supermercado comprar umas coizecas para nós dois: um par de espetadas para cada um, que acompanharíamos despretensiosamente com batatas fritas de pacote. [E que pai alimenta assim o filho pelo qual fica responsável?]

Mas a história não conclui aqui.
A minha tia refaz-se de uma operação. Primo e mana visitaram-na, falaram-lhe acerca da combinação feita comigo. Ela não terá percebido bem os pormenores. Quis facilitar-me certamente a vida: telefonou para dizer que, então, o meu primo levaria qualquer coisa para comermos em minha casa. Pareceu-me uma complicação [comida a derramar-se durante a viagem deles, carro ficando com cheiro de alimentos...]
Disse-lhe que não, que eu e Duarte já estávamos a tratar das compras, íamos só tasquinhar, primo & prima que se desenrascassem e aparecessem, como inicialmente planeado, «só para uns copos».

Eis o fim da história: os primos chegam a minha casa pouco depois, cheios de fome, para jantar e sem trazer nada. Porque, para complicar, o que a tia compreendera é que eu estava já a tratar das compras. E disse ela ao meu primo: «Não compres nada, que o rapaz até fica ofendido, diz que está já a tratar de compras. Deve estar a preparar-vos cá um jantar...»
«Mas ele tinha dito que não havia jantar...»
«Ai, isso não sei. Se calhar mudou de ideias.»
«Mas então, nem levo uma garrafa de vinho?»
«Nada, nada, coitado. Ele quer preparar tudo...»

Inútil acrescentar que, quando os primos chegaram, impulsionados pela fome e uma certa curiosidade relativamente ao que lhes «ia preparar», meu filho e eu já tínhamos devorado as espetadas - e as espetadas eram rigorosamente tudo o que havia em casa para comer...

LÍNGUAS DE BACALHAU

Eu nem sequer sabia que o bacalhau tivesse língua. Para quê? Ele fala? Lambe?
Mas de uma conversa que tive, há dias, com um género de especialista, retirei a ideia de que há um petisco verdadeiramente sublime: línguas de bacalhau!

Curiosamente, segundo o meu primo - a quem, depois, quis convencer da magnificência deste prato - criei uma estranha mitologia em torno das ditas «línguas». Como o especialista me dissesse que se tratava de um alimento excessivamente gordo, brutal para o fígado, e que ele próprio adorava mas evitava, não comendo senão uma ou duas vezes por ano, a ideia que eu construí foi a de que seria um pitéu altamente perigoso.

Um prato único, mas com um terrível poder bélico. De provar e de fugir. De comer uma vez na vida, como se nenhuma vida pudesse considerar-se completa sem essa experiência, mas tendo o cuidado de se não ganhar o vício, nem sequer o hábito, sob pena de perder de uma vez a referida vida.

E, portanto, guardo-me para esse momento. A medo. Tentando ser digno dele, rezando para que me não mate. Um dia provarei as línguas de bacalhau. E depois, poderei morrer - mas espero que não logo, e espero que não disso...