Apaixonamo-nos sempre por uma parte da pessoa.
A tragédia, depois, é ter de conviver todos os dias com a pessoa toda.
[E não falo de mim: refiro-me a personagens minhas].
segunda-feira, janeiro 31, 2011
domingo, janeiro 23, 2011
SOLIDARIEDADE E OUTRAS FANTASIAS
Hoje, almoçando com Dudú e Daisy no infame OP, tive o privilégio de ouvir o puto recordar uma história que eu lhe contava na infância, ou na adolescência, com pormenores da sua reacção (e da minha reacção à sua reacção) de que me tinha esquecido por completo.
Era uma série de aventuras. Chamava-se Os Moranguinhos. E as personagens, ou seja, «os moranguinhos», eram o próprio Dudú e alguns amigos da altura (o Francisco Quico, o Pedro Loureiro, o Tomás, de que me recorde...), os quais enfrentavam malvados do piorio, conseguindo vencê-los de uma forma gloriosa.
Mas numa dada época, relembra-me o Dudú, ele principiava a achar o dinheiro muito importante. Devíamos andar a chamar-lhe a atenção para que as coisas que ele queria eram caras, os pais não eram ricos, o consumismo é mau. Devíamos andar a contê-lo na sua fúria gastadora, no seu Compra, compra, compra. E - continuou o miúdo -, numa certa história, os fulanos malvados teriam colocado uma bomba algures no ventre de um centro comercial. Ora os especialistas da polícia, aflitos, não sabiam se haviam de cortar o fio amarelo ou o fio vermelho. [A pergunta não é: Onde é que eu já vi isto?; mas: Onde raio é que ainda não vi isto?]. E, em desespero de causa, telefonaram para os moranguinhos, perguntando-lhes que fio deviam cortar. Lembra-me Dudú que, na ocasião, me interrompeu, para dizer: «Eu acho que os moranguinhos deviam propôr isto: só damos a resposta se vocês nos pagarem um milhão de escudos!»
Dudú contou da minha indignação, da minha fúria, das minhas explicações de cariz pedagógico e moral, «Então estão pessoas na iminência de uma tragédia, poderia morrer muita gente, e os heróicos moranguinhos só ajudavam se lhes pagassem?!»
Rimos muito os dois, a recordar. Não quero parecer cínico (e, juro, não lhe disse hoje uma palavra politicamente incorrecta). Mas na altura do passado em que lhe pespeguei a lição de moral, estava longe de imaginar o rumo que a crise tomaria, e o tipo de país em que acabaríamos, com o próprio governo tentando resolver o problema à custa de um roubo descarado aos funcionários públicos. Agora, neste mundo do salve-se quem puder, sem valores nem princípios, em que Fernando Nobre troca o papel de herói generoso pelo de candidato foleiro à presidência, teria de pensar várias vezes antes de decidir o que os moranguinhos deveriam realmente fazer. Hum! Desculpem, não torno! Pronto. Já me calei, já me calei!
Era uma série de aventuras. Chamava-se Os Moranguinhos. E as personagens, ou seja, «os moranguinhos», eram o próprio Dudú e alguns amigos da altura (o Francisco Quico, o Pedro Loureiro, o Tomás, de que me recorde...), os quais enfrentavam malvados do piorio, conseguindo vencê-los de uma forma gloriosa.
Mas numa dada época, relembra-me o Dudú, ele principiava a achar o dinheiro muito importante. Devíamos andar a chamar-lhe a atenção para que as coisas que ele queria eram caras, os pais não eram ricos, o consumismo é mau. Devíamos andar a contê-lo na sua fúria gastadora, no seu Compra, compra, compra. E - continuou o miúdo -, numa certa história, os fulanos malvados teriam colocado uma bomba algures no ventre de um centro comercial. Ora os especialistas da polícia, aflitos, não sabiam se haviam de cortar o fio amarelo ou o fio vermelho. [A pergunta não é: Onde é que eu já vi isto?; mas: Onde raio é que ainda não vi isto?]. E, em desespero de causa, telefonaram para os moranguinhos, perguntando-lhes que fio deviam cortar. Lembra-me Dudú que, na ocasião, me interrompeu, para dizer: «Eu acho que os moranguinhos deviam propôr isto: só damos a resposta se vocês nos pagarem um milhão de escudos!»
Dudú contou da minha indignação, da minha fúria, das minhas explicações de cariz pedagógico e moral, «Então estão pessoas na iminência de uma tragédia, poderia morrer muita gente, e os heróicos moranguinhos só ajudavam se lhes pagassem?!»
Rimos muito os dois, a recordar. Não quero parecer cínico (e, juro, não lhe disse hoje uma palavra politicamente incorrecta). Mas na altura do passado em que lhe pespeguei a lição de moral, estava longe de imaginar o rumo que a crise tomaria, e o tipo de país em que acabaríamos, com o próprio governo tentando resolver o problema à custa de um roubo descarado aos funcionários públicos. Agora, neste mundo do salve-se quem puder, sem valores nem princípios, em que Fernando Nobre troca o papel de herói generoso pelo de candidato foleiro à presidência, teria de pensar várias vezes antes de decidir o que os moranguinhos deveriam realmente fazer. Hum! Desculpem, não torno! Pronto. Já me calei, já me calei!
quarta-feira, janeiro 19, 2011
E ALGUMAS, ATÉ AO CUBO...
Algumas pessoas - e eu em primeiro lugar, mas conheço algumas mais - deviam treinar a sua faculdade de pensar ao quadrado. Ou seja: pensar duas vezes duas antes de falar.
Etiquetas:
minutos de enorme fadiga psicológica
terça-feira, janeiro 18, 2011
QUEM TE MANDOU A TI, SAPATEIRO, TOCAR RABECÃO?
Lembram-se das Leis de Murphy?
Uma delas determinava que, quando alguém é competente em determinada função, o pior que se pode fazer é promover o sujeito, esperando-se que ele seja igualmente competente em novas funções, responsabilidades, exigências.
As Leis de Murphy são máximas: pega-se numa observação corriqueira, geralmente enervante (como esta, que tenho verificado: quando precisamos de uma farmácia de serviço, a farmácia de serviço não é, provavelmente, a farmácia que está mais próxima de si) e enuncia-se esse precalço como sendo uma lei, com um carácter científico. O efeito é, naturalmente, cómico.
Fernando Nobre, todavia, é uma ilustração da lei que eu enunciava nos parágrafos iniciais. Há, portanto, um homem que prova tudo o que tinha de provar no campo da solidariedade. Corre riscos, partindo, como médico, para países inóspitos e corruptos. Vê miséria e sofre. Minora-a como pode. A sua competência como médico e como herói é absolutamente inquestionável.
O que o faria pensar que os portugueses precisam dele como Presidente? O que o convence de que será um bom Presidente, com a sua voz baça, sem chama, o seu olhar mortiço e - perdoem-me - a sua absoluta falta de preparação política ou a sua confrangedora ausência de ideias? Ouvi-lo entre o «povo» é penoso: este herói também recorre a slogans e a falácias, também vomita frases feitas. Também elabora propaganda, também se deixa vender como um detergente.
Ouvi-lo argumentar, em debates, imbuído da sua superioridade moral - como se o facto de ter visto um menino a correr atrás do grão que uma galinha transportava no bico, para lho roubar e matar a fome, lhe conferisse uma aura indispensável a um Presidente -, é confrangedor. Não sei quem o convenceu de que é indispensável ao país. Sei que, diacho, custa sempre perceber em que se pode transformar, num certo universo, quem estava tão bem, e fazendo tanto, num universo paralelo.
Uma delas determinava que, quando alguém é competente em determinada função, o pior que se pode fazer é promover o sujeito, esperando-se que ele seja igualmente competente em novas funções, responsabilidades, exigências.
As Leis de Murphy são máximas: pega-se numa observação corriqueira, geralmente enervante (como esta, que tenho verificado: quando precisamos de uma farmácia de serviço, a farmácia de serviço não é, provavelmente, a farmácia que está mais próxima de si) e enuncia-se esse precalço como sendo uma lei, com um carácter científico. O efeito é, naturalmente, cómico.
Fernando Nobre, todavia, é uma ilustração da lei que eu enunciava nos parágrafos iniciais. Há, portanto, um homem que prova tudo o que tinha de provar no campo da solidariedade. Corre riscos, partindo, como médico, para países inóspitos e corruptos. Vê miséria e sofre. Minora-a como pode. A sua competência como médico e como herói é absolutamente inquestionável.
O que o faria pensar que os portugueses precisam dele como Presidente? O que o convence de que será um bom Presidente, com a sua voz baça, sem chama, o seu olhar mortiço e - perdoem-me - a sua absoluta falta de preparação política ou a sua confrangedora ausência de ideias? Ouvi-lo entre o «povo» é penoso: este herói também recorre a slogans e a falácias, também vomita frases feitas. Também elabora propaganda, também se deixa vender como um detergente.
Ouvi-lo argumentar, em debates, imbuído da sua superioridade moral - como se o facto de ter visto um menino a correr atrás do grão que uma galinha transportava no bico, para lho roubar e matar a fome, lhe conferisse uma aura indispensável a um Presidente -, é confrangedor. Não sei quem o convenceu de que é indispensável ao país. Sei que, diacho, custa sempre perceber em que se pode transformar, num certo universo, quem estava tão bem, e fazendo tanto, num universo paralelo.
domingo, janeiro 16, 2011
ideias minúsculas em letra minúscula
sempre admirei fernando pessoa por se ter tornado um editor capaz de perder dinheiro na publicação das coisas em que acreditava; como editor do meu próprio livro, tenho finalmente a possibilidade de perder dinheiro - que já comecei perdendo, aliás - por uma coisa em que creio.
há uma inteligência das atracções e das repulsas. falava na televisão um certo político pelo qual tenho uma autêntica aversão; mas, num primeiro momento, confundi-o com um outro que me é simpático. contudo, o que sentia era, olhando para ele, uma vaga e inexplicável repulsa. apesar do erro das minhas faculdades de reconhecimento, o instinto que fareja o desprezível raramente se deixa enganar.
num sonho que tive uma destas noites, o meu livro era lançado perante um grupo de idosos, babando-se e desentendendo-me, arrastando garrafas de oxigénio e assoando-se ruidosamente. e não, não foi propriamente um pesadelo: nesse sonho, fazia sentido que me tratassem de «jovem autor».
sexta-feira, janeiro 07, 2011
AS NÓDOAS
Olho amigo detectou e mão amiga (articulada com o olho) apontou uma nódoa que eu tinha na camisola.
Num dia particularmente atarefado e confuso, em que as 24 horas teriam de ser espartilhadas por uma série de actividades urgentes, consegui encontrar, mesmo assim, um grãozinho de tempo para passar por casa e mudar de camisola.
Vesti uma outra, aliás muito mais bonita, que me agrada e conforta.
Depois fui a um Mac. Comprei um hamburger e uma bebida, que levei, num cartucho de papel, para o automóvel, estacionado no parque. E no carro comi, ouvindo música: e no carro fiz, na nova camisola, uma outra nódoa.
Em síntese: posso dizer que tinha ido a casa trocar de nódoa.
Num dia particularmente atarefado e confuso, em que as 24 horas teriam de ser espartilhadas por uma série de actividades urgentes, consegui encontrar, mesmo assim, um grãozinho de tempo para passar por casa e mudar de camisola.
Vesti uma outra, aliás muito mais bonita, que me agrada e conforta.
Depois fui a um Mac. Comprei um hamburger e uma bebida, que levei, num cartucho de papel, para o automóvel, estacionado no parque. E no carro comi, ouvindo música: e no carro fiz, na nova camisola, uma outra nódoa.
Em síntese: posso dizer que tinha ido a casa trocar de nódoa.
segunda-feira, janeiro 03, 2011
FRASES QUE MARCARAM A MINHA PASSAGEM DE ANO
C - «Há um tipo particular de dislexia, que consiste em não ser capaz de ler correctamente as expressões do rosto nos outros. Aliás, cada vez mais me parece que sofro disso.»
T- «O pior com a tensão, não é quando está alta nem quando está baixa; nem quando a medida máxima está demasiado próxima da mínima. O pior é quando a mínima é superior à máxima. Isso nem se detecta, porque tendemos a pensar que a mínima é a máxima.»
C [que estava inspirada] - «Ela põe-se sempre a si mesma no centro de tudo. Eu ponho-me sempre nos lados...»
M - «Já nos despedimos, não foi? Podíamos ir embora, se não a despedida começa a esfriar.»
T- «O pior com a tensão, não é quando está alta nem quando está baixa; nem quando a medida máxima está demasiado próxima da mínima. O pior é quando a mínima é superior à máxima. Isso nem se detecta, porque tendemos a pensar que a mínima é a máxima.»
C [que estava inspirada] - «Ela põe-se sempre a si mesma no centro de tudo. Eu ponho-me sempre nos lados...»
M - «Já nos despedimos, não foi? Podíamos ir embora, se não a despedida começa a esfriar.»
Etiquetas:
frases que não estavam feitas
sábado, janeiro 01, 2011
Bad Boy MC Crazy Mother Fucker! Ricardo Araújo Pereira! G.F.
Há vários anos - não posso precisar há quantos, mas ainda se não falava dos Gato Fedorento -, assisti a esta intervenção de Bad Boy MC Crazy Mother Fucker. E esse foi o instante, o exacto instante, em que me apaixonei por Ricardo Araújo Pereira.
paradoxos kaósticos
Que poderia ser tão terrível como um comediante neurótico cuja neurose consistisse em enervar-se com gargalhadas?
Subscrever:
Mensagens (Atom)