Um plágio pressupõe, de algum modo, uma história secreta de paixão. Gosta-se tanto de uma música ou de uma ideia, que, afeiçoando-se a elas, um tipo se arrisca a reformulá-las. Inconscientemente. Plagiamos muitas vezes sem querer, sem nos apercebermos desse amor que nos move, dessa inconsciente tendência para repetir o que incorporámos. Influências que ressoam muito próximas, marcas, no que fazemos, que trazem um outro nome inscrito. Torna-se muito difícil determinar o que é ou não um plágio. O que ainda não é e o que já principiou a sê-lo. O que é repulsivo, isso sim, é o roubo: quando passo por meu um texto que sei que o não é. Quando copio e aponho o meu nome no trabalho de outrem..
Descubro, ultimamente, que «plágio» é também uma arma de arremesso. E das mais terríveis, porque insinuando, muitas vezes anonimamente - e quase sempre levianamente - deixamos estragos, minamos credibilidades, depositamos excremências no que é sério e límpido. Actua como um veneno lentíssimo: pode não matar, em todo o caso nunca mata rapidamente, mas influencia, perverte, subverte.
A blogosfera, percebi eu ultimamente, está toda inquinada por estas lutas. Entre leitores de blogues. Anónimos que passam no seu voo lesto, como pombos: deixam o cocó na lapela de um ser humano e desaparecem. (Mas regressarão, certamente). Fazem-no acerca de pessoas que respeito e admiro. E por quem poria as mãos no fogo: basta lê-las bem. O que me custa compreender, para além dos roubos (que nunca compreendi), é a acusação feita assim, de ânimo leve. O que me custa mesmo compreender é a consciência de uma pessoa assim: que alçapões, que caves, que tortuosos labirintos. Que invejas e que ressentimentos encobertos, e a coberto do anonimato.
terça-feira, maio 17, 2011
sexta-feira, maio 06, 2011
SILÊNCIO
Protzka afirma não só que o silêncio é uma forma de comunicação (isso seria evidente), mas que é a principal forma de comunicação.
Pensa que, mesmo quando há palavras, o silêncio que subjaz às palavras diz mais do que as palavras: o silêncio pode desmentir o que se está a dizer - o silêncio que se refugia das palavras para se esconder numa expressão, num relancear de olhos pelo relógio, na geografia e na psicologia do lugar onde me sentei, no tremor das minhas mãos, na palidez do rosto.
Às vezes, não temos indícios sequer para ler o silêncio. Um mail a que não obtenho resposta, que significa? Talvez que o não tenham recebido. Ou que não houvesse - ainda - tempo para lhe prestar atenção. Ou indiferença? Desprezo?
Eu não sou só um leitor de segundos sentidos de frases. (Nisso, tornei-me imbatível). Sou também um excelente leitor de silêncios. Nunca deixo um silêncio por ler. Nunca vejo unicamente ausência e vazio, vejo a estupidez, a maldade (nos piores casos), o complexo de superioridade de quem se acha demasiado importante para dirigir a palavra aos insectos. A um insecto não vale, por vezes, a pena sequer perseguir com um jornal enrolado. Para quê? O silêncio trata dele.
[A não ser que se trate de um tipo particularmente estúpido de insectos incapazes de ler silêncios. Mas eu não sou desses. Suspeito até que já morri...]
Pensa que, mesmo quando há palavras, o silêncio que subjaz às palavras diz mais do que as palavras: o silêncio pode desmentir o que se está a dizer - o silêncio que se refugia das palavras para se esconder numa expressão, num relancear de olhos pelo relógio, na geografia e na psicologia do lugar onde me sentei, no tremor das minhas mãos, na palidez do rosto.
Às vezes, não temos indícios sequer para ler o silêncio. Um mail a que não obtenho resposta, que significa? Talvez que o não tenham recebido. Ou que não houvesse - ainda - tempo para lhe prestar atenção. Ou indiferença? Desprezo?
Eu não sou só um leitor de segundos sentidos de frases. (Nisso, tornei-me imbatível). Sou também um excelente leitor de silêncios. Nunca deixo um silêncio por ler. Nunca vejo unicamente ausência e vazio, vejo a estupidez, a maldade (nos piores casos), o complexo de superioridade de quem se acha demasiado importante para dirigir a palavra aos insectos. A um insecto não vale, por vezes, a pena sequer perseguir com um jornal enrolado. Para quê? O silêncio trata dele.
[A não ser que se trate de um tipo particularmente estúpido de insectos incapazes de ler silêncios. Mas eu não sou desses. Suspeito até que já morri...]
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