quarta-feira, setembro 10, 2008

O NOME DA AVOZINHA

Já devo ter aqui escrito que a minha mãe é uma deliciosa velhinha de oitenta e cinco anos de idade. (Devia evitar espalhar estas informações pela net, bem sei: assim como há pedófilos à espreita, deve haver a correspondente tara por idosos. Ainda por cima usei a expressão «deliciosa» a propósito da senhora, mas enfim, calo-me já).
Chama-se Emília.
A minha filha, no seu linguajar arrevesado, trata-a por Vó Pia.
Sou idiota por não gostar, uma vez que «Pia» até é um nome bonito: existia a rainha Maria Pia, por exemplo, fundadora da Casa Pia (oh Diabo; isto está hoje a correr-me mal...); mas o caso é que aquele «Pia» evocava sempre, para mim, outro género de pias.
Tentei que a minha querida Daisy desse um passo, e começasse a tratar a avó por Mila. Vó Mila, em vez de Vó Pia.
Ensinei. Exaustivamente. Consecutivamente. Incansavelmente.
A Daisy deu, efectivamente, um passo:
Começou a tratá-la por Vó Pila!
Podem imaginar o susto, a tristeza, o horror, a vergonha, a angústia com que, pela primeira vez, a deliciosa velhinha escutou o bem-intencionado tratamente por parte da deliciosa criança: Olá, Vó Pila!
Tenho procurado emendar o erro. Insisto em que ela volte a chamá-la simplesmente Vó Pia. Não é possível. Na vida, nunca se volta atrás.
São diálogos alucinantes:
- Bamos à Vó Pila?
- Vó Pia! Pia! Pia! Vó Pia!!!
- Pila! Vó Pila!
- Não, Daisy. Ouve. Vó Pi-a. Pii-aaa!
- Vó Piii-laaa!

Como andam as coisas, está visto, eu é que vou acabar na prisão...

1 comentário:

Sara Rainbow Soul disse...

Queremos novos post(es)!
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