terça-feira, maio 19, 2009

UMA HISTÓRIA CADA VEZ MENOS RECOMENDÁVEL

O senhor T. soube imediatamente da maledicência. No bairro social tudo se sabia, se não pelo sapateiro coxo, pela viúva dos galões com torradinha, se não por ela, pelo drogado que não largava os transeuntes enquanto lhe não aviassem uns trocos.
O senhor T. ficou furibundo.
E um dia, telefonou a Dona B. que, quando lhe reconheceu a voz esqueceu tudo, o ressentimento e o rancor, a tristeza.
Contudo, o senhor T. vinha seco como... como... não sei, por ora só me ocorrem comparações sem lustro: vinha com uma voz seca, enfim.
- Dona B . - regougou ele -, se eu sei que a senhora diz mais uma palavra, uma que seja, acerca de mim, da minha mãe, dos meus sobrinhos, garanto-lhe que eu conto o seu segredo à polícia!

Dona B. não tinha qualquer segredo. Se tinha, não se lembrava. Que seria? Mas o certo é que aquelas palavras a atingiram como se o tivesse. A verdade é que acreditou que tinha um segredo grave e profundo que, por qualquer razão, a polícia gostaria de saber. Ou não gostaria de saber. Estava confusa. E culpada, sentia-se terrivelmente culpada por carregar um segredo tão terrível e tão oculto que até ela o ignorava.

Eis a origem de tudo: foi a partir daqui que decidiu - e principiou a planear meticulosamente - o assassínio do senhor T.

Havia que preservar o seu segredo.

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