quinta-feira, abril 29, 2010

O NÃO-GALO

Uma manhã cedo, inesperadamente, subiu para o parapeito da janela do primeiro andar e pôs-se a imitar um galo.
As vizinhas acordavam, vinham aos quintais, olhavam-no, incrédulas.
Falavam umas com as outras.
«A fazer cocorococó à janela, coitado. Veja bem. Julga que é um galo. Enlouqueceu, está visto!»

Mas a questão, aqui, é que nunca, nem por um momento, ele pensou que fosse um galo.
Acreditava que era um pato que enlouquecera e se pusera a imitar um galo.
E portanto, pelo critério das vizinhas («Julga que é um galo, logo enlouqueceu»), ele, que nunca realmente julgou ser um galo (mas um pato que, na sua loucura, se tomava por um galo), definitivamente não estava louco.

A psiquiatria é uma grande coisa.

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