Hoje, almoçando com Dudú e Daisy no infame OP, tive o privilégio de ouvir o puto recordar uma história que eu lhe contava na infância, ou na adolescência, com pormenores da sua reacção (e da minha reacção à sua reacção) de que me tinha esquecido por completo.
Era uma série de aventuras. Chamava-se Os Moranguinhos. E as personagens, ou seja, «os moranguinhos», eram o próprio Dudú e alguns amigos da altura (o Francisco Quico, o Pedro Loureiro, o Tomás, de que me recorde...), os quais enfrentavam malvados do piorio, conseguindo vencê-los de uma forma gloriosa.
Mas numa dada época, relembra-me o Dudú, ele principiava a achar o dinheiro muito importante. Devíamos andar a chamar-lhe a atenção para que as coisas que ele queria eram caras, os pais não eram ricos, o consumismo é mau. Devíamos andar a contê-lo na sua fúria gastadora, no seu Compra, compra, compra. E - continuou o miúdo -, numa certa história, os fulanos malvados teriam colocado uma bomba algures no ventre de um centro comercial. Ora os especialistas da polícia, aflitos, não sabiam se haviam de cortar o fio amarelo ou o fio vermelho. [A pergunta não é: Onde é que eu já vi isto?; mas: Onde raio é que ainda não vi isto?]. E, em desespero de causa, telefonaram para os moranguinhos, perguntando-lhes que fio deviam cortar. Lembra-me Dudú que, na ocasião, me interrompeu, para dizer: «Eu acho que os moranguinhos deviam propôr isto: só damos a resposta se vocês nos pagarem um milhão de escudos!»
Dudú contou da minha indignação, da minha fúria, das minhas explicações de cariz pedagógico e moral, «Então estão pessoas na iminência de uma tragédia, poderia morrer muita gente, e os heróicos moranguinhos só ajudavam se lhes pagassem?!»
Rimos muito os dois, a recordar. Não quero parecer cínico (e, juro, não lhe disse hoje uma palavra politicamente incorrecta). Mas na altura do passado em que lhe pespeguei a lição de moral, estava longe de imaginar o rumo que a crise tomaria, e o tipo de país em que acabaríamos, com o próprio governo tentando resolver o problema à custa de um roubo descarado aos funcionários públicos. Agora, neste mundo do salve-se quem puder, sem valores nem princípios, em que Fernando Nobre troca o papel de herói generoso pelo de candidato foleiro à presidência, teria de pensar várias vezes antes de decidir o que os moranguinhos deveriam realmente fazer. Hum! Desculpem, não torno! Pronto. Já me calei, já me calei!
domingo, janeiro 23, 2011
SOLIDARIEDADE E OUTRAS FANTASIAS
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1 comentário:
O que temos que repensar nos tempos que correm!...
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