Estava num bar, lamentando-me da crise com o empregado de mesa, que me escutava pacientemente, quando percebi que era tarde.
Levanto-me. Despeço-me, enquanto enfio a mão no bolso interior do casaco.
Procuro a carteira. Não a sinto. Enfio mais fundamente os meus dedos. Retiro a mão. Apalpo-me. Bato sobre todos os bolsos. Nada de carteira.
Dou passos, meio zonzo, viro a cabeça em todas as direcções. E bruscamente vejo o suspeito que se encaminha para a saída.
O suspeito é um homem que só não caminha mais rapidamente porque não consegue. Treme e arrasta a perna. Talvez de um AVC.
Aproximo-me, convicto.
«O senhor estava sentado ao meu lado. Deu-me um encontrão. Desapareceu-me a carteira.»
Não me diz nada. Olha-me, tremente, como se não tivesse compreendido as minhas palavras.
Vejo, então, que ele nem teve tempo de guardar a carteira. Trá-la sob a axila.
«É a isto que me refiro», digo, triunfante.
Puxo a carteira.
Sinto-me furioso. Empurro-o. Não reage. Tenho-lhe raiva. Tenho-lhe ódio. Estou furibundo. Dou-lhe um soco.
Treme, sempre sem uma palavra.
Verifico a carteira. O tipo não deve ter tido tempo para sacar o dinheiro. Abro. Está ali o dinheiro. E os cartões. As fotos. Não são meus, são dele. É tudo dele.
Olho para o balcão, espantado. A minha carteira. Ali. No chão.
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