segunda-feira, novembro 24, 2008

A SORTE GRANDE DE SÓCRATES

Instado a confessar se a indignação e as manifestações dos professores o faziam temer que ficasse definitivamente ameaçada a possibilidade de uma nova maioria absoluta do PS, o primeiro-ministro, senhor José Sócrates, respondeu: «Nós não governamos a pensar em maiorias absolutas».
Ora a isso é que eu chamo não ter medo das palavras. Porque, bem vistas as coisas, José Sócrates disse tudo. Um pouco mais do que tudo, até. Para ser certeiro, bastar-lhe-ia ter explicado: «Nós não governamos a pensar». Ponto.

Mas eu compreendo que a ministra, por seu lado, não saiba para onde se voltar, para onde fugir, para onde recuar, por onde resolver o problema.
E não é por falta de trabalho. Na verdade, tem-se esforçado bastante, tem trabalhado como nunca. Tome-se um exemplo: a última entrevista que lhe foi feita na televisão; era bem notório o imenso, o intenso trabalho em que se empenhou para reformar, em pleno tempo de crise, era nítido o seu radical ímpeto reformador: por uma vez, não aparecia despenteada: é uma reforma no visual; nada de fios soltos na cabeça: uma grande reforma, bolas!; algum pó-de-arroz, uma cor nos lábios. Não se pode ignorar esse esforço reformista. Depois, a moderação na voz. O tom comedido, quase doce. Não conta?
Não digo, vamos lá ver as coisas, que tenha conseguido tornar-se bela. (Embora se, em Portugal, houvesse alguém tão irrazoável e delirante para considerar possível uma tal reforma, esse alguém seria, evidentemente, a ministra da Educação); mas digo que se realizou um esforço honesto, ingente e visível para que ela não estivesse, ali, muito mais feia do que Judite de Sousa.

O problema permanece delicado; mais do que nunca. Como salvar a face? Sim, há faces que não merece a pena salvar. Mas, enfim, como mudar o modelo de avaliação sem dar a entender que se mudou? Ou, pelo contrário, como não mudar dando a aparência de que se mudou? Mais: e como conseguir fazer que o senhor de bigode farto, do sindicato, aceite essas mudanças-que-o-não-são, ou essas não-mudanças-que-o-são-mas-não-interessam?

E, pensa Sócrates, como evitar, no meio disto, a sangria dos votantes? O esvaziamento da maioria absoluta? Resposta dada, portanto: evitando pensar nisso.
Alguém dizia - não foram os Gato Fedorento? -: Bem, Sócrates tem, no fundo, muita sorte. É que Queirós está à frente da selecção, com os resultados que se têm visto.
E, que diabo, num país em crise, não há ovos disponíveis para o Queirós & ministra da Educação.

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