quarta-feira, agosto 12, 2009

O FEITIÇO PELA CULATRA - I

Chegou a ser divertido por um instante.

Estavam os dois, ele e Mateus. A ideia poderia ter sido dele ou de Mateus, seu amigo brasileiro: era indiferente; na verdade, as ideias de um e de outro misturavam-se numa confusão de rios onde se perdia a origem e o proprietário.
Inventaram um número de telemóvel (vodafone), partindo do princípio de que pertenceria certamente a alguém, e recorreram ao serviço vodafone para pedir que o dono do telemóvel aceitasse pagar a chamada.

O homem do número em causa aceitou.
Tinha uma voz máscula, pausada, cortês.
- Sim? - perguntou de lá, másculo, pausado, cortês.
- Como é que o senhor se chama? - inquiriu Nuno.
- Eu!? Essa agora! Diga-me você quem é, por favor. E depressa, que eu estou a pagar...
- Como é que o senhor se chama? - insistiu Nuno, enquanto o amigo Mateus escondia a cabeça sob a almofada para que o não ouvissem rir.
-Oiça - respondeu o homem. - Não me macem. Deve ser engano. Com licença.
E desligou.

Também se tornava difícil recordar quem decidira que deveriam continuar a brincadeira.
Mas, vez após vez, o homem aceitava sempre a chamada e, quando a operadora procedia à ligação, Nuno e Mateus não atendiam.
Uma vez. Duas, três vezes.
Depois, perceberam que o senhor lhes telefonava já por sua própria inciativa.
Não atendiam.
O homem insistia. Tornava à carga.
Quando atenderam, por fim, preparados para responder com vozes de monstro e guinchos, ouviram simplesmente isto:
- Sabe que o seu telefone está sob vigilância?
- Desliga essa porcaria, desliga essa porcaria! - gritou Mateus.
Ainda lhes chegou a voz, menos pausada, mais máscula, absolutamente descortês:
- Eu vou chegar aí. Juro que chego!

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