Mas, repentinamente, Mateus tinha de se ir embora. E a conversa de despedida entre os dois marcou-o profundamente.
- Cê tá frito! - disse-lhe o amigo, ao sair, como se o abandonasse. - Desta vez cê pôs a pata na poça.
«Cê está»!? «Cê Pôs!»? Onde raio estava então o «nós»?
-Cê sabe que agora eu tenho de ir -, rematou Mateus.
Nuno desligou o telemóvel, é claro. Mas, num certo sentido, nunca o telemóvel estivera tão ligado, tão presente, tão aceso como agora. É que ele não podia pensar em nada mais, nada mais. Seria possível que o seu número estivesse «sob vigilância»? De quem? Tinha um cartão vulgar, não associado a nenhum proprietário; quem o vigiaria, e como? Por outro lado, hoje, pensou, existem novos aparelhos, detectores sofisticados: sabia de mulheres que compravam dispositivos certeiros para saber onde se encontravam exactamente os maridos infiéis, ou vice-versa...
A mãe protestou:
- Nuno, estás com o móvel fechado? Sabes que isso me preocupa, quero saber sempre de ti...
Preocupava-se? Ai sim? Pois bem, agora tinha sérias razões para se preocupar. E ele nada lhe podia dizer: nada...
Quando tornou a ligar, no dia seguinte, a medo, viu o seu medo justificado: tinha a caixa cheia de mensagens - escritas e de voz, «Não me escapas», «Vou apanhar-te», «Estou perto, muito perto», «Esconde-te!», «Não adormeças de noite, estarei a ver-te!»
Um pedófilo? Um louco? Um assassino em série?
Chorou.
quinta-feira, agosto 13, 2009
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