Quando o gigante desdentado os encurralou num beco - obviamente - sem saída, tudo o que Alvarinho, de oito anos, se lembrou de dizer para o assustar, consistiu nisto:
«Não se meta connosco. Olhe que aqui o meu amigo é um poderoso feiticeiro...»
Idiotamente, porém, a reacção de Artur, seu companheiro, resumiu-se a:
«Qual teu amigo?!»
«Tu, Artur. És um poderoso feiticeiro, pois és?», (e piscava-lhe o olho, procurando envolvê-lo na artimanha para enganar o gigante).
«Eu?», espantou-se o inocente. O parvo.
«Sim. O senhor afaste-se de nós», mas o gigante aproximava-se, rindo com umas gargalhadas que, expelidas das entranhas, eram lançadas por aquele buraco negro, a sua bocarra sem dentes, «nem mais um passo, eu não torno a avisar», até que, por fim, definitivo, «está perdido!». E exortou: «Vá, Artur, diz as palavras mágicas!»
Nada mais ocorreu a Artur senão:
«Um, dois, três, macaquinho chinês!»
Alvarinho ficou aterrado.
Aterrado. Fora demasiado forte. Chegava a ter pena do gigante, transformado num macaquinho sem dentes e de olhos amendoados.
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