Hans e Karl olham-se perigosamente.
Não se conhecem. Em rigor, nada têm um contra o outro. Noutro lugar, noutras circunstâncias, num tempo diferente, quem sabe?, talvez pudessem ter sido amigos.
Não podem dar-se ao luxo de sondar e perceber que afinidades os ligam. Imaginem que, se começassem a conversar, descobriam que, em miúdos, haviam sido vizinhos e jogado juntos à bola. «Não me digas! Então tu eras o Karl, o que ficava sempre à baliza porque não era capaz de chutar decentemente?». E o outro: «Não era assim tão mau! Aliás, se bem me lembro, tu é que eras o Hans, que só jogava por ser o dono da bola...» - e sob estas palavras de aparente inimizade, dariam palmadas amigáveis no ombro um do outro, desabariam gargalhadas, iriam tomar uma cerveja, algures, recordando e rindo. Quem sabe, quem sabe?
Mas não hoje. Não aqui. Não agora.
Medem-se. Nenhum quer dar o primeiro passo. Nenhum dos dois se quer expor.
Lá fora, a chuva inclemente faz-se ouvir.
Não podem ficar ali eternamente. Algum terá de ser o primeiro a ousar.
É Karl.
Corre.
Hans principia também a mover-se.
Karl é mais lesto:
Pega no solitário guarda-chuva que se encontra no bengaleiro, e não pertence, obviamente, a nenhum dos dois - mas a um desgraçado que ainda não sabe, nesta altura, que ficará sem o seu guarda-chuva -, corre para a porta. Abre-o. Mete-se à chuva.
«Merda!», indigna-se Hans. «Vou apanhar uma molha valente».
quarta-feira, janeiro 06, 2010
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1 comentário:
zorbas hans voltou!
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