sexta-feira, abril 15, 2011

O COCÓ

Considero no mínimo curioso que se refira o socialismo e o comunismo como sendo relíquias teóricas do passado, ideários delirantes e obsoletos. A questão é que essas teorias - por muito que tenham falhado na prática - representam a busca de uma alternativa a um sistema, esse sim, sem qualquer vestígio de ética ou solidariedade, injusto, cruel e ineficaz: rompe por muitos lados mas não cai, alimenta-se de crises que sugam e definham tudo e todos em redor - menos a minoria que enriquece - mas sobrevive-lhes, aplaina pelo nível mais baixo, e chama a essa igualdade sem aspirações «democracia». É um dinossauro tétrico, uma planta carnívora sem sequer graciosidade, é a invasão dos telemóveis, das pipocas e das coca-colas no cinema. É a falta de respeito. É o Obama, a Merkl, o Sócrates e o ex-marido de uma Doce. É - desculpem - esta merda! E ainda se atrevem a dizer, acerca do sonho da mudança: Isso é coisa do passado! Isso é caquético.

2 comentários:

jornalgaivota@gmail.com disse...

(Continuação)
É uma copiosa derrota – que sucede a um longo período de declínio da esquerda não PS - que, enquanto não merecer a devida reflexão, a extração de ilações e a retirada de consequências não sustentará quaisquer aprendizagens ou as tão necessárias autocorreções que permitam um caminhar ao encontro das necessidades dos trabalhadores.
Ou seja: O regresso da esquerda e da esperança em torno das suas propostas, depende em boa parte da capacidade de ela se autoanalisar e autocorrigir, exercício que até agora está a realizar de forma muitíssimo insuficiente: O PS ( que com dificuldade alguém considerará de esquerda, mas cujos votantes e militantes são maioritariamente trabalhadores) mudou a simplesmente a sua liderança, mas foi incapaz de realizar qualquer a análise crítica das sua anterior linha política . O PC há muito que entrou no anedotário nacional porque é um partido que ”nunca perde eleições”, tendo ficou a autocomprazer-se com os seus ínfimos ganhos eleitorais, não se lhe conhecendo qualquer análise crítica dos seus magros resultados.
O Bloco de Esquerda foi – e quero crer que não deixou de ser – a mais recente esperança das pessoas de esquerda, já que partindo da agregação de um conjunto de organizações conotadas com a chamada “esquerda radical”, (dos idos tempos do PREC), deu sinais de se poder tornar em algo verdadeiramente novo no pensamento e nas propostas da esquerda que lhe permitam um ajustamento às necessidades dos trabalhadores e dos cidadãos das sociedades contemporâneas, em comparação com as três propostas tradicionais de que a esquerda habitualmente é portadora.
O BE conta a seu favor com um conjunto de características que o colocam em vantagem para poder trazer à luz do dia as ideias libertárias de que as “classes oprimidas” de hoje, carecem:
É plural. Pratica e desenvolve no seu interior uma cultura de são convívio e comunicação entre militantes portadores de ideologias e percursos muito diversos , unidos por uma fidelidade inquestionável à causa dos trabalhadores;
É aberto ideologicamente. Não segue uma matriz ideológica acabada ou fechada , ou seja, é ainda barro fresco, ideologicamente, preservando abertura mais do que ortodoxia ou preconceito e talvez por essa característica, mostrou-se capaz de captar adesões e votos nas áreas do centro esquerda (PS), esquerda (exPCs) e entre muitas pessoas independentes, num fenómeno de crescimento e envolvimento de cidadãos de diversas áreas raro, ou mesmo inédito em Portugal.
É democrático e pratica as liberdades. Aposta numa estrutura interna relativamente descentralizada e não segue o centralismo democrático, praticando no seu interior uma grande liberdade de opinião e de expressão dos seus militantes;
É pouco funcionalizado e não promove clientelas. Como organização relativamente recente e de limitada expressão eleitoral, não foi tomada de assalto por pessoas oportunistas à procura de uma carreira ou de um salário na política, conservando uma composição que o liga a uma genuína pratica da cidadania participativa.

jornalgaivota@gmail.com disse...

- Umas ideias políticas que deixo à reflexão do meu Amigo José Pacheco -
A esquerda – esse vasto campo político-ideológico onde se enquadram os que defendem, a primazia dos interesses da grande maioria social que é a classe trabalhadora assalariada, dos que defendem a equidade e a justiça social e dos que advogam a substituição ( sob condições variáveis) do capitalismo por outro sistema mais justo, sustentável e eficiente – está hoje esgotada e desacreditada junto de largos setores da população portuguesa.
Sinal disso (entre muitos outros) é a enorme derrota eleitoral sofrida a 5 de Junho passado, inédita nas suas dimensões, que hoje proporciona à direita política uma maioria de proporções inéditas em Portugal.
Sinais claros disso são igualmente a abstenção sempre crescente, a crise de militância interna, o alheamento da política, a desconfiança geral em relação aos partidos à qual nenhuma organização de esquerda escapa.
Vota-se no mal menor, ou no menos mau. Vota-se sem entusiasmo, com pouca convicção, sem esperança de nada, ou nem sequer se vota.
Lembrando o óbvio
Reconhecem-se habitualmente três grandes áreas à esquerda: A área das organizações políticas abrangidas pela internacional socialista, também chamada do socialismo democrático e moderado, ou da social democracia; A área dos partidos que se autodenominam comunistas; A área das organizações do socialismo revolucionário, também chamadas por muitos de esquerda radical ou extrema esquerda.
Em Portugal, como por todo o mundo, há décadas que as opções à esquerda são genericamente estas. Sem estar a aprofundar caracterizações e análises, que dariam pano para mangas e que não são o objeto deste texto, qualquer cidadão, que se reconheça genericamente “de esquerda” e pretenda dar o seu contributo de participação política à sociedade, teve ao longo de décadas apenas estas três opções, que aos olhos de muitos, estão esgotadas e não constituem alternativa de governo ou ás politicas pró-capitalistas representadas pelos partidos situados no espectro político abrangido pela direita.
Ou seja, PS, PC, ESQUERDA RADICAL, não respondem ás necessidades dos trabalhadores e não conseguem captar a sua confiança e apoio político.
A classe trabalhadora precisa de se sentir representada na arena política e nas instâncias de decisão, ( é mesmo uma verdadeira necessidade!) para que os seus interesses sejam defendidos, mas há que dizer que a perda de direitos a que hoje se assiste se deve a uma fraca representação da esquerda nas áreas de decisão, a qual por sua vez deriva do facto dos trabalhadores não se reverem nas suas três grande áreas.
Os trabalhadores não reconheceram credibilidade nas propostas, discursos, estilos e organizações de esquerda existentes e daí a coligação e as propostas de direita -mesmo anunciando a austeridade e os sacrifícios para a classes trabalhadoras- terem vencido.