quarta-feira, agosto 03, 2011

ANTÓNIO JOSÉ SEGURO: UMA BIOGRAFIA EXAUSTIVA

Não sei por que razão se tem especializado o PS em dar tiros no pé.
Ao princípio, foi Sócrates. E digo bem: «ao princípio», porque o líder se encarregou de fazer tábua rasa de todo o passado do partido, sobretudo no que, nesse passado, cheirava a esquerda.
Sócrates foi, portanto, como um novo princípio do partido - princípio que, por sinal, era quase o fim do PS.

Neste segundo momento, enquanto Sócrates foi um instantinho a Paris estudar o antigo Sócrates, o partido teve de se decidir entre duas figuras bizarras: Francisco de Assis seria a «continuidade»: em muito mais feio, sempre com a barba por fazer e um horroroso tique no ombro. Despacharam-no, ainda bem.

Restava Seguro. Lamento que o PS fosse, no fundo, chamado a escolher o mal menor. Porque há que não esquecer: o mal menor é sempre, e apesar de tudo, um mal.
Seguro é um «apparatchick». Nunca deu aulas, nem lavou pratos, nem se dedicou ao jornalismo. Não creio que, na adolescência, tenha participado, ao menos, em «trabalho de férias para jovens». Suponho que nunca estudou. Enfiou-se na Juventude do PS e, adequando-se rapidamente às estruturas do aparelho, lá foi percorrendo o seu caminho, vagarosa e prudentemente, sem arremedos nem fantasia, sem riscos nem coragem, sem palavras que se lhe notassem. Esperando, só. Esperando que se chegasse a um ponto em que já não sobejasse mais ninguém para ser escolhido. Faz lembrar um pouco o Pacheco, aquela adorável figura de Eça de Queirós, que de tal modo se mantinha silencioso, que foi gerando, em torno de si, expectativas que o guindavam sempre para mais alto. Pacheco tinha uma testa que falava por si. «É a testa de um pensador!»; Seguro tem aqueles olhos de cão magoado. E, precisamente, fala de afectos e de mudança. Tem tudo para ser um líder vitorioso: sobretudo, a mais total e absoluta ausência de ideias.

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