Eu nem sequer sabia que o bacalhau tivesse língua. Para quê? Ele fala? Lambe?
Mas de uma conversa que tive, há dias, com um género de especialista, retirei a ideia de que há um petisco verdadeiramente sublime: línguas de bacalhau!
Curiosamente, segundo o meu primo - a quem, depois, quis convencer da magnificência deste prato - criei uma estranha mitologia em torno das ditas «línguas». Como o especialista me dissesse que se tratava de um alimento excessivamente gordo, brutal para o fígado, e que ele próprio adorava mas evitava, não comendo senão uma ou duas vezes por ano, a ideia que eu construí foi a de que seria um pitéu altamente perigoso.
Um prato único, mas com um terrível poder bélico. De provar e de fugir. De comer uma vez na vida, como se nenhuma vida pudesse considerar-se completa sem essa experiência, mas tendo o cuidado de se não ganhar o vício, nem sequer o hábito, sob pena de perder de uma vez a referida vida.
E, portanto, guardo-me para esse momento. A medo. Tentando ser digno dele, rezando para que me não mate. Um dia provarei as línguas de bacalhau. E depois, poderei morrer - mas espero que não logo, e espero que não disso...
terça-feira, agosto 02, 2011
LÍNGUAS DE BACALHAU
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