terça-feira, agosto 02, 2011

e quando a pior das hipóteses, a que não se prevê, é que se realiza?

Passo estes dias sozinho em casa com meu filho.
Entretanto, meu primo esteve em Portugal para umas curtas férias. Combinámos que ele e a irmã iam, à noite, chez moi tomar um copo.
Como sou um péssimo cozinheiro e ando com o dinheiro contado, gaguejei ao telemóvel que viessem jantados - numa tremenda prova da má-educação a que o desespero pode levar as pessoas. [Não conseguia imaginar-me cozinhando uma refeição aceitável para receber convidados, nem podia gastar demasiado em comida feita: como raio chega um tipo aos cinquenta e tal anos sabendo pouco mais do que grelhar um ovo, se é o que se faz ao ovo...?]
Ficou claro entre nós: «Vamos então para uns copos», serenou-me ele.
Fui com o meu filho ao supermercado comprar umas coizecas para nós dois: um par de espetadas para cada um, que acompanharíamos despretensiosamente com batatas fritas de pacote. [E que pai alimenta assim o filho pelo qual fica responsável?]

Mas a história não conclui aqui.
A minha tia refaz-se de uma operação. Primo e mana visitaram-na, falaram-lhe acerca da combinação feita comigo. Ela não terá percebido bem os pormenores. Quis facilitar-me certamente a vida: telefonou para dizer que, então, o meu primo levaria qualquer coisa para comermos em minha casa. Pareceu-me uma complicação [comida a derramar-se durante a viagem deles, carro ficando com cheiro de alimentos...]
Disse-lhe que não, que eu e Duarte já estávamos a tratar das compras, íamos só tasquinhar, primo & prima que se desenrascassem e aparecessem, como inicialmente planeado, «só para uns copos».

Eis o fim da história: os primos chegam a minha casa pouco depois, cheios de fome, para jantar e sem trazer nada. Porque, para complicar, o que a tia compreendera é que eu estava já a tratar das compras. E disse ela ao meu primo: «Não compres nada, que o rapaz até fica ofendido, diz que está já a tratar de compras. Deve estar a preparar-vos cá um jantar...»
«Mas ele tinha dito que não havia jantar...»
«Ai, isso não sei. Se calhar mudou de ideias.»
«Mas então, nem levo uma garrafa de vinho?»
«Nada, nada, coitado. Ele quer preparar tudo...»

Inútil acrescentar que, quando os primos chegaram, impulsionados pela fome e uma certa curiosidade relativamente ao que lhes «ia preparar», meu filho e eu já tínhamos devorado as espetadas - e as espetadas eram rigorosamente tudo o que havia em casa para comer...

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