sexta-feira, agosto 11, 2006

PAIS, FILHOS & PSICÓLOGOS

Educar uma criança é difícil, mas mais fácil do que parece.
A primeira coisa a fazer, é não ligar aos psicólogos. Sobretudo, em Portugal, a pessoas como o Daniel Sampaio ou o Eduardo Sá. Ou o Pedro Strecht - em suma, aqueles que pontificam um pouco por toda a parte. Não é que nos enganem, coitados: eles não enganam ninguém. Basta ouvi-los durante cinco pacientes minutos para se perceber de imediato que não percebem nada destas coisas, que estão para ali a alinhar os mesmos chavões em que se revelam os perigos de uma teoria sem prática.

O que a prática me tem revelado, a mim que não sou psicólogo, é que não existem pais nem famílias que não sejam neuróticos; mais: que, na maior parte dos casos, quanto mais «politicamente correctos», quanto mais «consciencializados», quanto mais atentos e preocupados em agir by the book, isto é, de acordo com os manuais que ensinam os pais a ser pais, mais neuróticos são. (É preciso ser-se valentemente neurótico para se achar, por exemplo, que é possível viver a paternidade segundo os conselhos do senhor Daniel Sampaio).

Não quero que pensem que tenho a mania, ou que julgo saber do assunto mais do quem quer que seja; não quero que pensem que não cometo erros, nem sequer que penso que os não cometo. Cometo inúmeros. Alguns, incorrigíveis: estão-me na massa, na estrutura, no ADN, no que quiserem. Não tenho teorias, ou melhor, vou tentando compreender o que faço, tirando as minhas lições, procurando melhorar. É possível que esteja deformando e estragando o meu filho, que o esteja traumatizando, que lhe vá criando complexos e vícios vários. (Mas também não me preocupo mais do que a minha análise me convide a fazê-lo, porque verifiquei que a maioria dos «complexos» e dos «vícios» são uma invenção que tem rendido a uma certa psicologia...)
A minha aposta consiste simplesmente em confiar que tenho algumas coisas boas, que identifico e tento transmitir, tentando multiplicar as situações que o permitam; em reconhecer que tenho diversos e graves defeitos, cujo impacto menorizo quando posso; e, sobretudo, em esperar que a nossa relação viva e cresça, com bens e males, capaz de cuidar de si mesma, de constituir um rumo e um ritmo próprios, de acreditar em si. Isto não é uma receita. Não creio em receitas. É uma maneira de dizer que os filhos são resistentes: na maior parte dos casos, aprendem a superar o mal que lhes possamos fazer. Não é que isto me de-responsabilize. Nos de-responsabilize. É que se não acreditar nisto, mais vale não ter filhos - ou, então, pedir ao senhor Daniel Sampaio que os eduque por mim.

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