quinta-feira, novembro 02, 2006

COMO EMENDAR CLIENTES DE QUE SE NÃO GOSTA

Não é que eu não aprecie comer um bife pouco saudável no «Portugália» - com molho de mostarda, batatas fritas, etc. Aprecio. O que, de facto, não me agrada no «Portugália», é um certo género de empregados que faz questão de mostrar que sabe mais do que o cliente - e nunca se coibe de o educar.

Um exemplo: há precisamente uma semana, estávamos eu e o meu filho sentados a uma mesa do restaurante, e fazíamos o nosso pedido a um senhor muito alto, muito hirto, demasiado sério, pouco dado a brincadeiras. O meu filho, criança irrequieta, activa, quase no limiar da hiperactividade, ia rodando, entretanto, a faca sobre a mesa. Até que o tal empregado hirto, neurótico, não podendo resistir mais, lhe arrancou a faca e a acertou no lugar devido, junto ao prato.
O miudo, espantado mas ainda com uma réstea de energia para esgotar, iniciou, então, uma rotação com o garfo sobre a mesa, rotação essa imediatamente interrompida pelo senhor. Mas como parecesse que o Duarte não se dera ainda por satisfeito, o homem teve, de repente, uma espécie de iluminação; sussurrou, na sua entoação brasileira, «Cê quer hambúrger no pão, né mesmo? Então não vai precisar disso aí»; pegou nos talheres, e levou-os para longe...

O que me irrita é este tipo de superioridade dos empregados de certos restaurantes, não só, aliás, do «Portugália» (embora, aí, pareçam ter frequentado todos uma Acção de Formação sobre como pôr os clientes na linha).

O que me faz reviver uma outra situação, de uma vez em que eu e a minha mulher almoçávamos num lugar aprazível, com uma vista soberba sobre a Baía de Cascais, e a Adelaide achou que o que lhe apetecia, naquele momento, era precisamente um menu infantil.
Ao que a empregada, uma de óculos grossos e rictus de permanente zanga com o mundo, contestou, friamente:
- Peço desculpa, mas não vejo aqui nenhuma criança.
A Adelaide ainda pensou que se tratasse de uma brincadeira. Ainda pensou, coitada, que poderia responder com uma outra brincadeira. E atirou:
- Há uma criança dentro e cada um de nós, não é verdade?
- Ah, pois é - fechou a mulher, sem a sombra de um sorriso -, mas essa criança que há dentro da senhora não tem direito a menu infantil.

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