Existe, até ao 9º ano, uma instituição que deveria garantir a ligação entre os professores e os encarregados de educação, que é a caderneta.
A caderneta, como não poderia deixar de escrever se isto fosse uma redacção virtuosa, é muito útil; tal como a vaca nos dá o leite, a caderneta permite-nos acompanhar de perto o desempenho dos nossos filhos, de forma a que os possamos corrigir e ajudar...
Sejamos sérios: a caderneta funciona, pelo que tenho visto, como uma espécie de bode expiatório, isto é, uma forma de os professores (os mesmos que detestam sentir os pais demasiado próximos, vasculhando e vigiando), poderem, de vez em quando, atirar-lhes com as culpas da sua própria incompetência: «O Manuel não tem feito os trabalhos de casa», «O João anda muito desatento e conversador nas aulas», «O Paulo deverá estudar», ou aquela pérola, pela mão do professor de EVT do meu próprio rebento, «Fulano tem tido atitudes impropriadas nas aulas». Impropriadas, escreve-me o professor do meu filho - ao que me apetecia responder: Bolas! Mesmo tratando-se de um professor de EVT... (no que estaria sendo injusto e preconceituoso).
Sabemos que os pais podem e devem acompanhar os filhos no seu trabalho de casa, como sabemos que nem sempre isso é possível porque, desde pais que não têm habilitação para o efeito até aos que não têm tempo, a situação dos alunos nem sempre pode ser solucionada em casa. Não querem os professores preservar a sua independência? Não se queixam de que os pais não são aptos para os avaliarem? Então porque recorrem tão frequentemente a eles e, aqui é que bate o ponto, tão arrogantemente, como quem lhes diz: Já viu bem a prenda que produziu? Veja lá se consegue fazer qualquer coisa com ele porque nós, professores, aqui, só vamos é depois avaliar...!
De algum modo, a caderneta transformou-se num instrumento de registo de males, de erros e inabilidades do aluno, uma selecção de depreciações. Se pensamos em como é pedagogicamente importante o reforço positivo, espantamo-nos de que tal elemento de ligação casa-escola nunca sirva para apreciar positivamente, para registar progressos e melhorias, parabéns, incentivos.
A caderneta do meu filho é um dos meus pesadelos. Sonho que me persegue. Quando espero pelo miudo à porta da escola e o vejo, com a caderneta meio escondida atrás das costas, lágrimas no rosto, já sei que temos drama.
Por mim, abomino a caderneta.
sábado, dezembro 02, 2006
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