O que significa exactamente ter 50 anos de idade? O que simboliza, ou como me marca, ou de que modo me toca, ou me transforma, ou me esmaga, ou me faz pensar?
A tendência mais simples, mas a mais mentirosa também, seria a de encolher os ombros com alguma superioridade e responder «Nem dou por eles», fingindo não ouvir o riso surdo da minha ciática, dos meus grisalhos, das minhas rugas, das pessoas que me rodeiam. Não, alguma coisa terá mudado - sobretudo a nível simbólico, na maneira como olho para mim, e me vejo, e me meço. E deste ponto de vista, claro, é assustador: não posso evitar lembrar-me do que representava, para o adolescente que eu fui, um «senhor» de cinquenta; depois, há a perturbadora síntese dessa idade: meio século... Meio século parece-me uma imensidão, e se revejo os patamares das minhas vidas (porque tive realmente muitíssimas, e variadas), verifico que um «meio século» é uma substância temporal feita de épocas amarelecidas, que já nem reconheço se me confronto com elas, reconstituídas no cinema ou captadas em fotografias, com modelos de automóveis que não existem ou modas que, mais do que terem caído em desuso, se tornaram totalmente absurdas; amigos que desapareceram das mais diversas formas, mulheres que amei perdidamente, viagens inolvidáveis que me parecem impossíveis, a vivência colectiva de momentos que, para os adolescentes de hoje, são uma data histórica ou menos do que isso - nada são...
Aparte isso, reconheço em mim, e estou a ser inteiramente sincero, um elemento da mais pura infantilidade que nada, que ninguém foi capaz de desfazer. Uma capacidade de me não levar a sério que é um misto de insegurança perante tudo e todos e de recusa de me envolver numa «seriedade» da vida que me não fala nem toca.
E dizem-me, em casa:
«Pois! Isso é que é preocupante!»
E eu protesto. E mostro que poderia não ser de todo um defeito. Que até há quem me ache graça.
E respondem-me, em casa:
«Claro! Acham-te graça porque não têm de viver contigo...»
sexta-feira, outubro 19, 2007
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