domingo, outubro 14, 2007

MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Agora que o assunto deixou os jornais e as revistas onde, por um breve lapso de tempo, emparceirou com o caso «Maddie», é talvez o momento para regressar a ele. Falo de Madre Teresa de Calcutá, por quem, aliás, vá-se lá saber porquê, nunca nutri a mais minúscula simpatia.
Refiro-me, sobretudo, à sensacional (e sensacionalista) revelação da sua falta de Fé. Da sua «Noite Escura»: do silêncio de Deus, o pavoroso silêncio de um Deus que lhe não falava, que não descia sobre ela, que a não tranquilizava, que lhe não dava sinais, que a não deixava de modo algum sentir a sua Presença.

Curiosamente, os pensadores, padres ou leigos, entrevistados sobre esta questão, trataram de a menorizar: que a dúvida seria normal, que todo o crente passa por períodos de turbação e perturbação, de silêncio e ausência. Como São João da Cruz, diziam eles. Como Santa Teresa de Ávila, diziam eles. Como todos os Grandes Místicos, diziam eles. Mas, acrescentavam, que importância tem a dúvida se não para nos fortalecer? A persistência e o retorno ao redil, eis o que conta.

No caso de Madre Teresa, porám, não havia retorno. A fé fujira-lhe. Não estava em parte alguma. Batia à porta e, da casa, não lhe chegava qualquer vida. E não que lhe tivesse desaparecido ontem ou anteontem. Tratava-se de uma ausência longa, penosa, dolorosa, de anos, de sempre. Um silêncio abismal.

O que não ouvi dizer, é que é precisamente esse silêncio que transforma tudo quanto ela fez, tudo aquilo a que se entregou e devotou, numa tarefa enorme, grandiosa, sublime. Sem encorajamentos divinos, sem aplausos do Céu, sem vozes condutoras, sem, sequer, a certeza de um Prémio Eterno.

Entregar-se aos outro no meio do silêncio de Deus, sem o calor nem a energia celestiais, isso tem de ser, então, entregar-se verdadeiramente aos outros, para os outros, pelos outros. (Pois que, fora destes, para além deles, dos miseráveis que ajudo, dos esfomeados que alimento, dos nus a quem ofereço a própria camisa, nada me acena, nada me consola).

E, por si só, essa maneira de viver torna-se-me tão admirável, que encontro por Madre Teresa, na descoberta da sua tristeza, da sua descrença, da sua falta de Deus, a simpatia que nunca nutrira por ela.

E o seu exemplo vale bem todos os milhares gastos em sumptuosas igrejas em Fátima!

1 comentário:

Sara Rainbow Soul disse...

;)

São estas coisas que admiro em ti! O ateu mais cristão que conheço.

Afinal o essencial é de facto invisível aos olhos. Já sei que é um cliché, mas não deixa de ser verdade!