Primeiro, um comentário sem importância:
Diziam-me, hoje, que Portugal iria ter um grande problema - o mau estado do relvado no estádio em que decorrerá o jogo.
Portugal tem, penso eu, um problema muito maior: que o senhor Queirós esteja a favor da selecção portuguesa.
Seguidamente, um comentário muito sério:
Afirmam pessoas de responsabilidade que não está provada a relação entre a vacinação, contra a gripe A, de mães grávidas, e a morte dos fetos. E, como não está provada essa relação, seria precipitado admiti-la.
Ando eu a ensinar, aos meus alunos do 11º ano, que existe uma falácia chamada «ad ignorantiam», cujo mecanismo consiste em argumentar assim: como ninguém conseguiu provar que isto é de uma certa forma, conclui-se que a inversa é verdadeira.
Alguém demonstrou que Deus existe? Não? Ora muito bem! Isso demonstra que não existe.
Ou:
Alguém provou que a vacina contra a gripe A em grávidas afecta os fetos? Não? Ora aí está. Quer dizer que não afecta.
Que país, caraças! Que país!
quarta-feira, novembro 18, 2009
segunda-feira, novembro 16, 2009
O QUE ME NÃO ANDA CÁ A CHEIRAR BEM
Bem sei que, para manter a prudência e não arvorar uma atitude desmoralizadora, seria exigível não dizer, ainda, mal da nova ministra da Educação.
Dou de barato que houve um equívoco, e não uma mentira, quando afirmou, de manhã, que não fora convidada para o governo e, nessa mesma tarde, se apresentava ao presidente como nova ministra.
Dou de barato que - a questão de anunciar, como tendo um mestrado (ou doutoramento) realizado numa universidade de Boston o que, pelos vistos, não foi senão um cursozeco de Verão com a duração de dois meses, seja um pormenor de somenos importância.
E agrada-me que receba os sindicalistas com uma postura agradável, distribuindo beijinhos e sentando-se diante deles, ao invés de, como fazia a anterior senhora ministra, se colocar altivamente à cabeceira da mesa.
São gestos, são sinais.
Pelos vistos, funcionam: os sindicalistas saem das reuniões muito satisfeitos, garantindo que este é «o princípio do fim do modelo», que tudo mudou, que a avaliação irá ser substituída.
No entanto, devo confessar, é precisamente essa alegria esfuziante dos sindicalistas que me preocupa. Porque, quando os oiço falar, tudo parece resolvido. Mas quando oiço a ministra, senhora dona Alçada, não detecto, não detectei por enquanto nenhum sinal que explique essa alegria.
Vejo-a simpática, mas não a oiço dizer que o modelo em causa está pronto para ir para o cesto de papéis. Pelo contrário, a senhora afirma que não se pode falar em suspensão; que há que aproveitar o que já está feito...
E, portanto, cheira-me a que, nesta história mal contada, alguém anda a fazer papel de tolo.
Serão os senhores sindicalistas? Ou eu não estou a ver bem?
Por uma vez, preferia que se viesse a perceber que o tolo era eu!
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escolices,
justificações e insinuações
domingo, novembro 15, 2009
A INVASÃO
Surgiu, primeiro, uma delas, muito negra e luzidia. Parecia atarantada. Rodava, rodava pelo soalho, e desapareceu.
Nessa tarde, já se viam duas ou três. «As batedoras», pensei.
Detestamos ter baratas em casa, mas não eram baratas. Detestamos as moscas, pelo verão: não eram moscas; detestamos as melgas, com o seu zumbido suicida, porque previnem as pessoas «Estamos aqui, vá, toca a acordar, enrola um jornal, caça-nos!». Mas também não eram melgas.
Depois, quando ainda as não levávamos sério, deu-se a invasão. Como formigas, mas demasiado grandes para ser formigas, demasiado exactas nos seus movimentos colectivos, demasiado poderosas e seguindo ordens numa linguagem que não entendíamos.
Lição: comer na sala pode provocar uma invasão alienígena.
Nessa tarde, já se viam duas ou três. «As batedoras», pensei.
Detestamos ter baratas em casa, mas não eram baratas. Detestamos as moscas, pelo verão: não eram moscas; detestamos as melgas, com o seu zumbido suicida, porque previnem as pessoas «Estamos aqui, vá, toca a acordar, enrola um jornal, caça-nos!». Mas também não eram melgas.
Depois, quando ainda as não levávamos sério, deu-se a invasão. Como formigas, mas demasiado grandes para ser formigas, demasiado exactas nos seus movimentos colectivos, demasiado poderosas e seguindo ordens numa linguagem que não entendíamos.
Lição: comer na sala pode provocar uma invasão alienígena.
terça-feira, novembro 03, 2009
DAISY VAI AO SENHOL DOUTOL
Daisy, que tem tido sintomas gripais, foi há poucos dias ao médico.
Já agora, o grande defeito da minha filha, em termos de linguagem, reside, actualmente, na pronúncia do «r».
Durante algum tempo, no lugar do «r» havia um vazio: «Magaída» por «Margarida», «Quato» por «Quarto», «Pato» por «Prato» e, bom, parece-me que já perceberam a ideia.
Mais tarde, trocava-o por um «l»: «Qualto», por exemplo, como se fosse uma chinesinha a falar.
Agora, mais estranho e cada vez mais complicado, já ao nível do poço da morte em termos de linguagem, substitui o «r» por um... «s»; nunca tal ouvira a ninguém: «Quasto» em vez de «Quarto».
O médico, no consultório, fazia-lhe perguntas. E Daisy respondia, conversava, explicava-se - sempre com trapalhadas nos «r», ora um hiato no lugar da consoante, ora uma consoante diferente.
Até que eu, desatento mas preocupado, senti necessidade de clarificar:
- Ela não há maneira de dizer os «r», Sr. Dr...
Resposta do careca:
- Oga, oga! Não se pgeocupe, que com o tempo acabagá pog dizê-los...
Já agora, o grande defeito da minha filha, em termos de linguagem, reside, actualmente, na pronúncia do «r».
Durante algum tempo, no lugar do «r» havia um vazio: «Magaída» por «Margarida», «Quato» por «Quarto», «Pato» por «Prato» e, bom, parece-me que já perceberam a ideia.
Mais tarde, trocava-o por um «l»: «Qualto», por exemplo, como se fosse uma chinesinha a falar.
Agora, mais estranho e cada vez mais complicado, já ao nível do poço da morte em termos de linguagem, substitui o «r» por um... «s»; nunca tal ouvira a ninguém: «Quasto» em vez de «Quarto».
O médico, no consultório, fazia-lhe perguntas. E Daisy respondia, conversava, explicava-se - sempre com trapalhadas nos «r», ora um hiato no lugar da consoante, ora uma consoante diferente.
Até que eu, desatento mas preocupado, senti necessidade de clarificar:
- Ela não há maneira de dizer os «r», Sr. Dr...
Resposta do careca:
- Oga, oga! Não se pgeocupe, que com o tempo acabagá pog dizê-los...
OS ASSOCIADOS
O negócio de Gusmão consistia na prestação de serviços sexuais. Não trabalhava sozinho. Ele e sua amiga, Pepita, funcionavam em conjunto. Iam a casa - chegavam discretamente, com óculos escuros, gola levantada, às vezes bigode postiço; recebidos, começavam imediatamente a despir-se. Havia quem os quisesse ver simplesmente a actuar, em delirantes performances de sexo. Outros clientes, faziam questão de participar. Era mais caro - mas, também para eles mais interessante.
Em casa de Gusmão, o que se pensava é que o seu negócio era uma editora com florista incorporada. E quando chegava tarde, quando não vinha dormir, Gusmão justificava-se com excesso de trabalho ou demoradas reuniões com os seus sócios. Seriam cinco sócios - todos homens, segundo Gusmão que, como já perceberam, era um mentiroso bastante inventivo.
Um dia, Judite, sua esposa, fez questão de oferecer, em casa, um jantar para os sócios. Queria conhecê-los, talvez, mas, sobretudo, agradecer-lhes a consideração que mostravam pelo marido, as prendas que às vezes enviavam, as atenções de que cumulavam a família.
Gusmão teve, então, a genial ideia de contratar cinco sem-abrigo, dar-lhes banho, vesti-los, instruí-los e levá-los a jantar em sua casa, fazendo-os passar por seus associados.
Os homens seriam estranhos, admito, mas a escolha estava longe de ser infinita.
O vendedor da revista Cais gostou imediatamente da ideia, desde que pudesse ficar com o fato para si.
O cigano afligia-o - preconceituado e racista, Gusmão não conseguia deixar de pensar que ele tinha um plano para não sair de casa de mãos a abanar.
O negro, mal falava português. Mas isso podia corrigir-se. Gusmão só não sabia como.
Os gémeos siameses, na verdade árabes, tinham sido, em tempos, homens-bomba, mais tarde expulsos da congregação porque entretanto se descobrira, em meio de enorme escândalo, que não lhes apetecia morrer por nenhuma Causa: achavam, talvez estupidamente, que a bomba os não mataria e, em vez disso, poderia separá-los (estavam unidos pela anca e pelo ombro direitos, sem órgãos em comum).
O jantar correu de uma forma absolutamente bizarra.
Judite acreditou em tudo. E apreciou a sucessão de equívocos que a conversa prodigalizou, achando sempre que se tratava do exercício invulgar de humor dos associados do seu marido.
Decidiu que, uma vez por mês, daria um jantar.
E isso só não chegou a suceder porque, antes de passado o primeiro mês, Gusmão encontrou a morte, no decurso de uma acrobacia sexual que um cliente exigente quisera ver posta em prática.
Pepita, por razões compreensíveis, não pôde ir ao funeral.
Os falsos associados estiveram presentes. Havia esparguete e vinho...
Em casa de Gusmão, o que se pensava é que o seu negócio era uma editora com florista incorporada. E quando chegava tarde, quando não vinha dormir, Gusmão justificava-se com excesso de trabalho ou demoradas reuniões com os seus sócios. Seriam cinco sócios - todos homens, segundo Gusmão que, como já perceberam, era um mentiroso bastante inventivo.
Um dia, Judite, sua esposa, fez questão de oferecer, em casa, um jantar para os sócios. Queria conhecê-los, talvez, mas, sobretudo, agradecer-lhes a consideração que mostravam pelo marido, as prendas que às vezes enviavam, as atenções de que cumulavam a família.
Gusmão teve, então, a genial ideia de contratar cinco sem-abrigo, dar-lhes banho, vesti-los, instruí-los e levá-los a jantar em sua casa, fazendo-os passar por seus associados.
Os homens seriam estranhos, admito, mas a escolha estava longe de ser infinita.
O vendedor da revista Cais gostou imediatamente da ideia, desde que pudesse ficar com o fato para si.
O cigano afligia-o - preconceituado e racista, Gusmão não conseguia deixar de pensar que ele tinha um plano para não sair de casa de mãos a abanar.
O negro, mal falava português. Mas isso podia corrigir-se. Gusmão só não sabia como.
Os gémeos siameses, na verdade árabes, tinham sido, em tempos, homens-bomba, mais tarde expulsos da congregação porque entretanto se descobrira, em meio de enorme escândalo, que não lhes apetecia morrer por nenhuma Causa: achavam, talvez estupidamente, que a bomba os não mataria e, em vez disso, poderia separá-los (estavam unidos pela anca e pelo ombro direitos, sem órgãos em comum).
O jantar correu de uma forma absolutamente bizarra.
Judite acreditou em tudo. E apreciou a sucessão de equívocos que a conversa prodigalizou, achando sempre que se tratava do exercício invulgar de humor dos associados do seu marido.
Decidiu que, uma vez por mês, daria um jantar.
E isso só não chegou a suceder porque, antes de passado o primeiro mês, Gusmão encontrou a morte, no decurso de uma acrobacia sexual que um cliente exigente quisera ver posta em prática.
Pepita, por razões compreensíveis, não pôde ir ao funeral.
Os falsos associados estiveram presentes. Havia esparguete e vinho...
DIFICÍLIMOS RECOMEÇOS
Que raio queria eu?
Venho de observar os dados relativos ao número de visitantes deste meu blogue, e percebo que a quantidade caiu a pique. Em certos dias, não houve quem me espreitasse. E noutros dias terei tido um curioso, provavelmente eu mesmo, a ver se já teria postado alguma novidade.
A verdade é que as pessoas têm motivos. O meu blogue não mostra novidades há muitos meses. Preferia que as pessoas acorressem, curiosas, expectantes, para darem depois com a cara em nada?
Bem! Por acaso preferia...!
Tenho de me decidir. Não há desculpas para não escrever. Uma nota, uma mensagem, uma palavra. Literalmente: ao menos uma palavra.
Vou dedicar-me à escrita telegráfica para os dias em que esteja pouco inspirado ou muito ocupado.
Vou recomeçar a escrever.
Se calhar, mesmo recomeçando a haver texto, não tornará contudo a haver leitores tão cedo.
Mas é bem feito.
Venho de observar os dados relativos ao número de visitantes deste meu blogue, e percebo que a quantidade caiu a pique. Em certos dias, não houve quem me espreitasse. E noutros dias terei tido um curioso, provavelmente eu mesmo, a ver se já teria postado alguma novidade.
A verdade é que as pessoas têm motivos. O meu blogue não mostra novidades há muitos meses. Preferia que as pessoas acorressem, curiosas, expectantes, para darem depois com a cara em nada?
Bem! Por acaso preferia...!
Tenho de me decidir. Não há desculpas para não escrever. Uma nota, uma mensagem, uma palavra. Literalmente: ao menos uma palavra.
Vou dedicar-me à escrita telegráfica para os dias em que esteja pouco inspirado ou muito ocupado.
Vou recomeçar a escrever.
Se calhar, mesmo recomeçando a haver texto, não tornará contudo a haver leitores tão cedo.
Mas é bem feito.
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