O negócio de Gusmão consistia na prestação de serviços sexuais. Não trabalhava sozinho. Ele e sua amiga, Pepita, funcionavam em conjunto. Iam a casa - chegavam discretamente, com óculos escuros, gola levantada, às vezes bigode postiço; recebidos, começavam imediatamente a despir-se. Havia quem os quisesse ver simplesmente a actuar, em delirantes performances de sexo. Outros clientes, faziam questão de participar. Era mais caro - mas, também para eles mais interessante.
Em casa de Gusmão, o que se pensava é que o seu negócio era uma editora com florista incorporada. E quando chegava tarde, quando não vinha dormir, Gusmão justificava-se com excesso de trabalho ou demoradas reuniões com os seus sócios. Seriam cinco sócios - todos homens, segundo Gusmão que, como já perceberam, era um mentiroso bastante inventivo.
Um dia, Judite, sua esposa, fez questão de oferecer, em casa, um jantar para os sócios. Queria conhecê-los, talvez, mas, sobretudo, agradecer-lhes a consideração que mostravam pelo marido, as prendas que às vezes enviavam, as atenções de que cumulavam a família.
Gusmão teve, então, a genial ideia de contratar cinco sem-abrigo, dar-lhes banho, vesti-los, instruí-los e levá-los a jantar em sua casa, fazendo-os passar por seus associados.
Os homens seriam estranhos, admito, mas a escolha estava longe de ser infinita.
O vendedor da revista Cais gostou imediatamente da ideia, desde que pudesse ficar com o fato para si.
O cigano afligia-o - preconceituado e racista, Gusmão não conseguia deixar de pensar que ele tinha um plano para não sair de casa de mãos a abanar.
O negro, mal falava português. Mas isso podia corrigir-se. Gusmão só não sabia como.
Os gémeos siameses, na verdade árabes, tinham sido, em tempos, homens-bomba, mais tarde expulsos da congregação porque entretanto se descobrira, em meio de enorme escândalo, que não lhes apetecia morrer por nenhuma Causa: achavam, talvez estupidamente, que a bomba os não mataria e, em vez disso, poderia separá-los (estavam unidos pela anca e pelo ombro direitos, sem órgãos em comum).
O jantar correu de uma forma absolutamente bizarra.
Judite acreditou em tudo. E apreciou a sucessão de equívocos que a conversa prodigalizou, achando sempre que se tratava do exercício invulgar de humor dos associados do seu marido.
Decidiu que, uma vez por mês, daria um jantar.
E isso só não chegou a suceder porque, antes de passado o primeiro mês, Gusmão encontrou a morte, no decurso de uma acrobacia sexual que um cliente exigente quisera ver posta em prática.
Pepita, por razões compreensíveis, não pôde ir ao funeral.
Os falsos associados estiveram presentes. Havia esparguete e vinho...
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