quinta-feira, setembro 02, 2010

AMERICA'S NOTEBOOK III

1. Lembro-me de ter ficado profundamente surpreendido quando, à minha chegada ao aeroporto de Houston, ouvi, em todos os altifalantes, uma voz feminina que, delicadamente, nos advertia: «Please, be carefull with unnapropriate jokes and remarks!»

2. Meu filho, de quinze anos, tinha, dos states, a ideia de um país racista, rasgado por situações em que polícias brancos espancam, por todo o lado, jovens negros ou latino-americanos, cuja culpa não fora provada; já eu, pelo contrário, transportava a ideia do país «politicamente correcto», desprezando e rejeitando, como racista, qualquer referência ao facto de haver pessoas diferentes. Esta estranha - e, é verdade, ridícula - forma de me receberem no aeroporto vinha dar-me razão. Por algum motivo os EUA são os inventores do "politicamente correcto".

3. É indiscutível e é evidente, a cada passo, que os EUA se tornaram uma verdadeira manta multirracial e multi-cultural. Vejo, numa cerimónia universitária, como, na enorme quantidade dos estudantes que, entrando em medicina, recebem a sua bata branca - ou, por enquanto, enquanto estudantes, o seu curto "casaco branco" (nisso mesmo consiste "the white coat cerimony") - existem brancos, negros, sul-americanos, indianos, chineses.

4. Deste ponto de vista, começo a entender a filosofia do "politicamente correcto", com os seus medos, preconceitos e complexos, como, mais do que uma corrente entre as diversas correntes culturais da América do Norte, a possibilidade oficial de as reconciliar todas, evitar tensões, suprimir mal-entendidos, ignorar diferenças, numa "igualdade" institucional a que as almas românticas são imediatamente sensíveis.

5. Dizem-me alguns brancos, com os quais conversei, que a única forma de racismo natural e generalizada, nos EUA, é a da comunidade negra. Limito-me a registar.

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