sexta-feira, novembro 14, 2014
MARISA & PIRES DE LIMA
Há consensos no país. São tão raros, porém, que tendem a tornar-se absolutos e indiscutíveis.
Um deles é Marisa. A fadista de quem, ao que ouvi, a própria Amália terá dito um dia: «Já tenho continuadora. Posso morrer descansada.»
Amália lá morreu. Marisa foi, entretanto, agraciada fora. E diz-se que os portugueses amam de tal forma o que vem «do estrangeiro», que até os produtos nacionais são mais valorizados por nós quando fazem um desvio pelo «estrangeiro», para que os recebamos entre aplausos. Todos gostam de Marisa. Do seu fado, da sua voz rica e cheia. (Há adjectivos, próprios para a voz dos fadistas, estranhamente semelhantes aos que se empregam para o vinho.) Pois a voz de Marisa, envelhecida em casca de carvalho, nunca me entusiasmou. A personagem, muito menos.
Não quero desmistificar - não tenho a menor razão para explicar o meu ruído, a dificuldade na adesão. Não tenho argumentos.
Certas inexplicáveis antipatias são mais fortes do que as antipatias razoáveis e sensatas.
Já agora, o contrário.
A prestação de Pires de Lima gerou outro consenso: estou agora a ouvir, lá do fundo, uma colega que sublinha o descrédito em que o ministro caiu. Todos concordam no ridículo. No despropósito. A assembleia é uma igreja. [Ahahaha.] Um lugar de reverência. [Ahahahaha.] Discordo. Não sei argumentar: Pires de Lima tornou-se-me simpático e apreciável.
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1 comentário:
Concordo, de repente Pires de Lima tornou-se mais humano
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