domingo, novembro 23, 2014

O SENTIMENTO ANTI-POLÍTICO


Ora muito bem.
Uma civilização incorpora certos benefícios de que se não pode abrir mão.
A higiene é um deles. A democracia, dir-se-á, outro.
A democracia tem uma base ideológica mínima. Assentes nessa base, divergimos, discutimos, argumentamos, optamos, votamos. Mas a base, avisam-nos eles, não se discute.

Dessa base mínima faz parte o respeito pela política e pelos políticos.
Quando grassa um generalizado «sentimento anti-político», devemos combatê-lo. Insistem eles. O «sentimento anti-político» é uma espécie de pecado capital da democracia. Aí principiam todos os populismos; aí se entronca a pior demagogia: a História mostra-nos consequências possíveis e quem sabe se cada vez mais prováveis.

Os Lellos e os Coutos dos Santos desta vida propuseram a reposição da malfadada subvenção vitalícia dos senhores que hajam passado pelo parlamento.
Os PS e os PSD deste mundo preparavam-se para se unir neste ultraje aos portugueses.
Entretanto, o Sr. José Sócrates acaba detido para averiguações. Assumo a presunção de inocência: mas não posso ignorar que alguma coisa há-de estar, no mínimo, embrulhada no passado deste homem.

Eu sei que o «sentimento anti-político» é injusto. Eu sei que a democracia é um bem precioso. Eu sei que as pessoas que se dedicam à causa da política não são todas iguais. Mas, caramba, então não sejam todos tão iguais. Caramba, criem mecanismos para que se não confundam todos. Bolas, afastem-se dos arrivistas, não tomem chá com eles, nem imperiais; sobretudo não lhes aprovem as propostas, não vão atrás de gente ruim: antes sós que mal acompanhados. Façam-nos sentirem-se mal no meio de vós.

A minha mãezinha dizia: «Se queres que te respeitem, tens de dar-te ao respeito.»

E nos limites da minha indignação, este é o texto mais justo que consigo.

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