terça-feira, julho 28, 2009

AMOR É DIVINO. SEXO É ANIMAL

Kaostico, como o próprio nome anuncia, foi, de certa forma, o caos original, o húmus primordial, o início de tudo.

Tendo agora começado a multiplicar-me em diversos avatares, em blogues que respectivamente se centram em interesses muito específicos, um de poesia, um de literatura, um de cinema, perguntei-me se não estaria, paulatinamente, a esvaziar o kaostico. Se, daqui para a frente, se me apetecesse falar sobre cinema não iria antes àquele, ou a um outro heterónimo bloguista para publicar um poema...

E, de repente, percebo que não. Que, por alguma razão, nos outros blogues tendo a ser bem-comportado. Que, para falar de livros, me civilizo. Quase a ponto de me tornar aborrecidamente snob. Percebo que, se quero realmente continuar a ser eu, no que tenho de mais instintivo, animal, incorrecto, desagradável, infantil, tempestuoso e irascível, o kaostico será onde desaguo.

E, mais, se nos outros me torno mais instruído, recorrendo às modernas tecnologias, ao que vou aprendendo, dou-me ao luxo de, no kaostico, prescindir de quaisquer meios. Ou quase: é assim que o aprecio, sem preliminares nem açúcar, forte, negro e bom como um abatanado pela manhã.

Nos outros blogues, descubro e partilho amores. É da esfera do Bem.
Neste, faço sexo. É da esfera do Bom.
Ali, sou divino. (Modéstia à parte...!)
Aqui, animal. Como canta Rita Lee.

sábado, julho 25, 2009

DONA MARIANA

A Dona Mariana caçou-me num cafezito sem portas secretas nem saídas de emergência, isto é, onde eu não tinha escapatória possível.
Diz a Dona Mariana que me acha mais gordinho.
E pergunto-me eu por que raio se dizem coisas destas às pessoas. Para as manter informadas sobre as notícias vitais? Para fazer conversa, como antes se falava do tempo a quem se não tinha absolutamente mais nada para dizer? Porque eu terei efectivamente engordado tanto que o comentário lhe sai, irresistível e incontrolável como certos arrotos? Ou simplesmente para chatear?
A Dona Mariana tem um cão com um abajur, uma espécie de funil em cartão à roda do pescoço. Para se não coçar nem arranhar numa ferida.
A Dona Mariana diz que o sobrinho está em casa, engripado. Apetece-me logo vingar-me. Mas seria uma crueldade de gordo, não cheguei a esse ponto. Chego só ao ponto, a que também não resisto, de perguntar se tem tido dor de cabeça ou vómitos. E deixo escapar que «eles» aconselham a que se lave muito as mãos. Sinto que ela não percebe o que quero dizer, deixo morrer a conversa.
A Dona Mariana prepara-se para se despedir de mim com beijos estalados, daqueles que me repugnam.
Digo-lhe:
«Está a ver? Sempre há vantagens no engordar: agora fico com mais espaço para os seus beijinhos...»
Desejo-lhe as melhoras ao neto. Que não seja nada de cuidado. E piro-me!

sexta-feira, julho 24, 2009

MENTES PODEROSAS - VIII






















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quinta-feira, julho 23, 2009

LUA-DE-MEL A SÓS

O padrinho do meu quase casamento era um homem de posses. Oferecera-nos, para a lua-de-mel, uma viagem de sonho a Kashbarrah, onde possuía o único hotel, um hotel de cinco estrelas.
Como não chegou a haver casamento, com aquela vergonha da noiva ter fugido para se casar com outro, o quase-padrinho, condoído, disse-me:
- Ficas na mesma com o meu presente. Não será lua-de-mel, pode ser uma viagem para te esqueceres da vergonha. Formas lá um harém e não pensas mais nessa traidora!

Fiz, portanto, a viagem e, no barco que se destinava a Bagdechd (porto de onde, seguidamente, apanharíamos uma raríssima camioneta para Kashbarrah), primeiro com um sobressalto de irritação e inveja, depois com uma distensão de alívio e regozijo por não ser eu naquela situação, conheci um casal que viajava em lua-de-mel.
Ele era um tipo muito jovem, profundamente antipático, com um cabelo gorduroso, dentes grandes e óculos grossos. Ela, uma rapariga de ar tresloucado, com um princípio de calvície demasiado evidente e brincos de plástico. Mas deste casal fazia ainda parte uma mulher que cedo identifiquei como sendo a mãe dele. A cumplicidade da velha em relação ao rapaz, com quem confereciava constantemente, em surdina, não dava lugar a dúvidas. Eu assistia, intruso miserável e despudorado, a uma enorme discussão entre o recém-marido e a recém-esposa, com gritos de uma agressividade extrema, como berros de gaivota e, depois, quando ela se retirava, humilhada, via o rapaz a queixar-se à mãe, começando sempre da mesma maneira a sua lamúria:
- Já viste isto? «Ela» diz que...
E a velha a acalmá-lo.

Quando chegámos a Bagdeschd, devo confessá-lo, atrelei-me ao casal tridimensional. Não só por curiosidade e por poder banhar-me na permanente alegria de me ter, afinal de contas, libertado de um casamento que não acabaria muito melhor, mas porque o capitão do barco nos pusera de sobreaviso contra os ladrões. Por outro lado, tornava-se importante não perdermos a camioneta: a solução aconselhada passava por não nos perdermos uns dos outros.

Na paragem, iniciou-se outra discussão. À minha frente, como se eu tivesse já passado a fazer parte do casal e, portanto, nada houvesse a esconder-me, notei como passavam a pente fino tópicos de há semanas atrás, frases ditas há muito tempo e que não tinham tido resposta na altura, esquecimentos, faltas, falhas. Ele estava quase à beira de uma apoplexia, mas ela não se calava, com a sua calvície, parecia-me, a ganhar terreno, umas sandálias horrorosas que lhe deixavam marcas e feridas nos calcanhares.

E, nisto, apareceu a camioneta.
Entraram.
Reparei, contudo, que a recém-casada se esquecera, atrás, de um saco de carcaças.
Preocupado, temendo que pudesse ser um tópico mais para acirrar a discussão, desci do degrau em que já me encontrava na camioneta e fui apanhar o saco.
De saco na mão, vi a porta fechar-se. Apressei-me, mas a camioneta arrancava, diante dos meus olhos, fazendo uma poeira na qual me perdia e dissolvia.
Corri, gritando. Iam ouvir-me. O casal ia dar pela minha falta. Alguém me veria, acenando com um saco de carcaças. Não era possível. Não era possível.

Foi possível. Foi assim.

Perguntei a um árabe, que me queria vender um «timex», quando haveria outra camioneta.
Riu, mostrando-me exasperantes dentes de ouro. A próxima, só no mês seguinte.

quarta-feira, julho 22, 2009

UM TEXTO QUE POUCO SERVE E NADA TRAZ. PARA QUE CONSTE

Como o meu computador apanhou certa virose cujo efeito, que eu veja, consiste unicamente em que os acentos das palavras caem fora das palavras, estou a tentar o desafio de escrever um texto que evite todos os acentos. Se repararem bem, os acentos foram total e sabiamente evitados neste texto. Se eu fosse mais moderno e escrevesse de acordo com o Novo Acordo, suspeito que mais facilmente, ainda, conseguiria escolher palavras sem acentos. Reparem que, de acordo com o Novo Acordo, nem, por exemplo, o termo «cagado» se acentua, ficando-se no entanto na incerteza, caso eu escrevesse «vejo o cagado debaixo da cadeira», acerca do referente da palavra utilizada: estaria a referir-me a um animal, de casa sobre o dorso, oculto sob a cadeira, ou teria acabado de descobrir, sob a mesma cadeira, o produto de um animal irracional - ou de uma pessoa tornada irracional por dar com o wc ocupado? Mas para prescindir mesmo de acentos, melhor do que escrever de acordo com o Novo Acordo, seria escrever de acordo com a senhora dona margarida moreira, que penso que saibam quem seja, e tenho notado tratar-se de uma mulher de tal forma independente, que depende muito, muito, muito pouco do que a escrita portuguesa em geral determina ou aconselha...
Certo, este texto deixa um bocado a desejar. Falta-lhe, porventura, profundidade. Ou interesse. O seu motivo parece fraco. Em todo o caso, como desafio, tem graça. Pouca, mas, enfim, alguma: conseguimos escrever um texto longo - e, chegados aqui, o desafio pode dar-se por vencido: quem escreveu estas inanidades, poderia certamente escrever mais trezentas e cinquenta posts assim... - sem precisar de um acento que fosse.
Isto consola-me um pouco. Porque, a verdade, resume-se a isto: estou furioso!

quinta-feira, julho 16, 2009

CRÍTICOS SEM CRITÉRIO

Os quatro vagabundos estavam sentados lado a lado, num banco corrido. Um deles era negro e tinha um boné. Outro era indiano, não tinha boné. Os dois restantes, brancos, embora muito sujos, estavam de calções.
Fixavam atentamente o anão que, diante deles, subiu para cima da mesa de bilhar e, sem uma palavra, desatou a fazer um sapateado.
Depois, saltou para o chão e foi-se embora. Os seus sapatos, próprios para fazer sapateado, ecoavam pelo chão num cada vez mais longínquo toc-toc-toc-toc.
Um dos vagabundos, talvez o negro, perante o silêncio que se instalou, gritou para algures:
«Então e agora? Já podemos ir embora?»
Outro deles tentou a sua sorte:
«E não há aí um naco de pão para o pessoal, chefe?!»
«Com um bocadinho de manteiga?», acrescentou mais um.
Só o silêncio por resposta.
Desandando do estranho palacete, o indiano ainda se voltou para trás:
«Então e um cigarrito? Ao menos um cigarrito, ein, chefe?»
Foram para a rua.
Um dos vagabundos comentou:
«Claro que não é todos os dias que temos direito a um espectáculo destes...»
Algum deles respondeu:
«Pois não. Mesmo assim, acho que preferia uma carcaça com manteiga».
Concordaram.
«Ou um cigarrito...»

domingo, julho 12, 2009

GLÓRIAS NACIONAIS

Afinal, há que lembrar que temos, num país tão pequenininho, dois portugueses de envergadura internacional.

Dois nobéis contemporâneos: o Saramago (Nobel da Literatura) e o Cristiano Ronaldo (Nobel do Futebol).

E, até, mais parecidos um com o outro do que se diria à primeira vista. E se não é no futebol (porque nunca vi o sr. Saramago jogar à bola), é certamente na escrita!

terça-feira, julho 07, 2009

HISTORINHA

Daisy, fingindo de gatinho, deu no outro dia, contra uma estátua em ferro forjado, a maior das cabeçadas que se pode imaginar.

Conclusão: o gatinho pariu um ganda galo!

MENTES PODEROSAS - VII






















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