quarta-feira, julho 29, 2009
terça-feira, julho 28, 2009
AMOR É DIVINO. SEXO É ANIMAL
Kaostico, como o próprio nome anuncia, foi, de certa forma, o caos original, o húmus primordial, o início de tudo.
Tendo agora começado a multiplicar-me em diversos avatares, em blogues que respectivamente se centram em interesses muito específicos, um de poesia, um de literatura, um de cinema, perguntei-me se não estaria, paulatinamente, a esvaziar o kaostico. Se, daqui para a frente, se me apetecesse falar sobre cinema não iria antes àquele, ou a um outro heterónimo bloguista para publicar um poema...
E, de repente, percebo que não. Que, por alguma razão, nos outros blogues tendo a ser bem-comportado. Que, para falar de livros, me civilizo. Quase a ponto de me tornar aborrecidamente snob. Percebo que, se quero realmente continuar a ser eu, no que tenho de mais instintivo, animal, incorrecto, desagradável, infantil, tempestuoso e irascível, o kaostico será onde desaguo.
E, mais, se nos outros me torno mais instruído, recorrendo às modernas tecnologias, ao que vou aprendendo, dou-me ao luxo de, no kaostico, prescindir de quaisquer meios. Ou quase: é assim que o aprecio, sem preliminares nem açúcar, forte, negro e bom como um abatanado pela manhã.
Nos outros blogues, descubro e partilho amores. É da esfera do Bem.
Neste, faço sexo. É da esfera do Bom.
Ali, sou divino. (Modéstia à parte...!)
Aqui, animal. Como canta Rita Lee.
Tendo agora começado a multiplicar-me em diversos avatares, em blogues que respectivamente se centram em interesses muito específicos, um de poesia, um de literatura, um de cinema, perguntei-me se não estaria, paulatinamente, a esvaziar o kaostico. Se, daqui para a frente, se me apetecesse falar sobre cinema não iria antes àquele, ou a um outro heterónimo bloguista para publicar um poema...
E, de repente, percebo que não. Que, por alguma razão, nos outros blogues tendo a ser bem-comportado. Que, para falar de livros, me civilizo. Quase a ponto de me tornar aborrecidamente snob. Percebo que, se quero realmente continuar a ser eu, no que tenho de mais instintivo, animal, incorrecto, desagradável, infantil, tempestuoso e irascível, o kaostico será onde desaguo.
E, mais, se nos outros me torno mais instruído, recorrendo às modernas tecnologias, ao que vou aprendendo, dou-me ao luxo de, no kaostico, prescindir de quaisquer meios. Ou quase: é assim que o aprecio, sem preliminares nem açúcar, forte, negro e bom como um abatanado pela manhã.
Nos outros blogues, descubro e partilho amores. É da esfera do Bem.
Neste, faço sexo. É da esfera do Bom.
Ali, sou divino. (Modéstia à parte...!)
Aqui, animal. Como canta Rita Lee.
sábado, julho 25, 2009
DONA MARIANA
A Dona Mariana caçou-me num cafezito sem portas secretas nem saídas de emergência, isto é, onde eu não tinha escapatória possível.
Diz a Dona Mariana que me acha mais gordinho.
E pergunto-me eu por que raio se dizem coisas destas às pessoas. Para as manter informadas sobre as notícias vitais? Para fazer conversa, como antes se falava do tempo a quem se não tinha absolutamente mais nada para dizer? Porque eu terei efectivamente engordado tanto que o comentário lhe sai, irresistível e incontrolável como certos arrotos? Ou simplesmente para chatear?
A Dona Mariana tem um cão com um abajur, uma espécie de funil em cartão à roda do pescoço. Para se não coçar nem arranhar numa ferida.
A Dona Mariana diz que o sobrinho está em casa, engripado. Apetece-me logo vingar-me. Mas seria uma crueldade de gordo, não cheguei a esse ponto. Chego só ao ponto, a que também não resisto, de perguntar se tem tido dor de cabeça ou vómitos. E deixo escapar que «eles» aconselham a que se lave muito as mãos. Sinto que ela não percebe o que quero dizer, deixo morrer a conversa.
A Dona Mariana prepara-se para se despedir de mim com beijos estalados, daqueles que me repugnam.
Digo-lhe:
«Está a ver? Sempre há vantagens no engordar: agora fico com mais espaço para os seus beijinhos...»
Desejo-lhe as melhoras ao neto. Que não seja nada de cuidado. E piro-me!
Diz a Dona Mariana que me acha mais gordinho.
E pergunto-me eu por que raio se dizem coisas destas às pessoas. Para as manter informadas sobre as notícias vitais? Para fazer conversa, como antes se falava do tempo a quem se não tinha absolutamente mais nada para dizer? Porque eu terei efectivamente engordado tanto que o comentário lhe sai, irresistível e incontrolável como certos arrotos? Ou simplesmente para chatear?
A Dona Mariana tem um cão com um abajur, uma espécie de funil em cartão à roda do pescoço. Para se não coçar nem arranhar numa ferida.
A Dona Mariana diz que o sobrinho está em casa, engripado. Apetece-me logo vingar-me. Mas seria uma crueldade de gordo, não cheguei a esse ponto. Chego só ao ponto, a que também não resisto, de perguntar se tem tido dor de cabeça ou vómitos. E deixo escapar que «eles» aconselham a que se lave muito as mãos. Sinto que ela não percebe o que quero dizer, deixo morrer a conversa.
A Dona Mariana prepara-se para se despedir de mim com beijos estalados, daqueles que me repugnam.
Digo-lhe:
«Está a ver? Sempre há vantagens no engordar: agora fico com mais espaço para os seus beijinhos...»
Desejo-lhe as melhoras ao neto. Que não seja nada de cuidado. E piro-me!
sexta-feira, julho 24, 2009
quinta-feira, julho 23, 2009
LUA-DE-MEL A SÓS
O padrinho do meu quase casamento era um homem de posses. Oferecera-nos, para a lua-de-mel, uma viagem de sonho a Kashbarrah, onde possuía o único hotel, um hotel de cinco estrelas.
Como não chegou a haver casamento, com aquela vergonha da noiva ter fugido para se casar com outro, o quase-padrinho, condoído, disse-me:
- Ficas na mesma com o meu presente. Não será lua-de-mel, pode ser uma viagem para te esqueceres da vergonha. Formas lá um harém e não pensas mais nessa traidora!
Fiz, portanto, a viagem e, no barco que se destinava a Bagdechd (porto de onde, seguidamente, apanharíamos uma raríssima camioneta para Kashbarrah), primeiro com um sobressalto de irritação e inveja, depois com uma distensão de alívio e regozijo por não ser eu naquela situação, conheci um casal que viajava em lua-de-mel.
Ele era um tipo muito jovem, profundamente antipático, com um cabelo gorduroso, dentes grandes e óculos grossos. Ela, uma rapariga de ar tresloucado, com um princípio de calvície demasiado evidente e brincos de plástico. Mas deste casal fazia ainda parte uma mulher que cedo identifiquei como sendo a mãe dele. A cumplicidade da velha em relação ao rapaz, com quem confereciava constantemente, em surdina, não dava lugar a dúvidas. Eu assistia, intruso miserável e despudorado, a uma enorme discussão entre o recém-marido e a recém-esposa, com gritos de uma agressividade extrema, como berros de gaivota e, depois, quando ela se retirava, humilhada, via o rapaz a queixar-se à mãe, começando sempre da mesma maneira a sua lamúria:
- Já viste isto? «Ela» diz que...
E a velha a acalmá-lo.
Quando chegámos a Bagdeschd, devo confessá-lo, atrelei-me ao casal tridimensional. Não só por curiosidade e por poder banhar-me na permanente alegria de me ter, afinal de contas, libertado de um casamento que não acabaria muito melhor, mas porque o capitão do barco nos pusera de sobreaviso contra os ladrões. Por outro lado, tornava-se importante não perdermos a camioneta: a solução aconselhada passava por não nos perdermos uns dos outros.
Na paragem, iniciou-se outra discussão. À minha frente, como se eu tivesse já passado a fazer parte do casal e, portanto, nada houvesse a esconder-me, notei como passavam a pente fino tópicos de há semanas atrás, frases ditas há muito tempo e que não tinham tido resposta na altura, esquecimentos, faltas, falhas. Ele estava quase à beira de uma apoplexia, mas ela não se calava, com a sua calvície, parecia-me, a ganhar terreno, umas sandálias horrorosas que lhe deixavam marcas e feridas nos calcanhares.
E, nisto, apareceu a camioneta.
Entraram.
Reparei, contudo, que a recém-casada se esquecera, atrás, de um saco de carcaças.
Preocupado, temendo que pudesse ser um tópico mais para acirrar a discussão, desci do degrau em que já me encontrava na camioneta e fui apanhar o saco.
De saco na mão, vi a porta fechar-se. Apressei-me, mas a camioneta arrancava, diante dos meus olhos, fazendo uma poeira na qual me perdia e dissolvia.
Corri, gritando. Iam ouvir-me. O casal ia dar pela minha falta. Alguém me veria, acenando com um saco de carcaças. Não era possível. Não era possível.
Foi possível. Foi assim.
Perguntei a um árabe, que me queria vender um «timex», quando haveria outra camioneta.
Riu, mostrando-me exasperantes dentes de ouro. A próxima, só no mês seguinte.
Como não chegou a haver casamento, com aquela vergonha da noiva ter fugido para se casar com outro, o quase-padrinho, condoído, disse-me:
- Ficas na mesma com o meu presente. Não será lua-de-mel, pode ser uma viagem para te esqueceres da vergonha. Formas lá um harém e não pensas mais nessa traidora!
Fiz, portanto, a viagem e, no barco que se destinava a Bagdechd (porto de onde, seguidamente, apanharíamos uma raríssima camioneta para Kashbarrah), primeiro com um sobressalto de irritação e inveja, depois com uma distensão de alívio e regozijo por não ser eu naquela situação, conheci um casal que viajava em lua-de-mel.
Ele era um tipo muito jovem, profundamente antipático, com um cabelo gorduroso, dentes grandes e óculos grossos. Ela, uma rapariga de ar tresloucado, com um princípio de calvície demasiado evidente e brincos de plástico. Mas deste casal fazia ainda parte uma mulher que cedo identifiquei como sendo a mãe dele. A cumplicidade da velha em relação ao rapaz, com quem confereciava constantemente, em surdina, não dava lugar a dúvidas. Eu assistia, intruso miserável e despudorado, a uma enorme discussão entre o recém-marido e a recém-esposa, com gritos de uma agressividade extrema, como berros de gaivota e, depois, quando ela se retirava, humilhada, via o rapaz a queixar-se à mãe, começando sempre da mesma maneira a sua lamúria:
- Já viste isto? «Ela» diz que...
E a velha a acalmá-lo.
Quando chegámos a Bagdeschd, devo confessá-lo, atrelei-me ao casal tridimensional. Não só por curiosidade e por poder banhar-me na permanente alegria de me ter, afinal de contas, libertado de um casamento que não acabaria muito melhor, mas porque o capitão do barco nos pusera de sobreaviso contra os ladrões. Por outro lado, tornava-se importante não perdermos a camioneta: a solução aconselhada passava por não nos perdermos uns dos outros.
Na paragem, iniciou-se outra discussão. À minha frente, como se eu tivesse já passado a fazer parte do casal e, portanto, nada houvesse a esconder-me, notei como passavam a pente fino tópicos de há semanas atrás, frases ditas há muito tempo e que não tinham tido resposta na altura, esquecimentos, faltas, falhas. Ele estava quase à beira de uma apoplexia, mas ela não se calava, com a sua calvície, parecia-me, a ganhar terreno, umas sandálias horrorosas que lhe deixavam marcas e feridas nos calcanhares.
E, nisto, apareceu a camioneta.
Entraram.
Reparei, contudo, que a recém-casada se esquecera, atrás, de um saco de carcaças.
Preocupado, temendo que pudesse ser um tópico mais para acirrar a discussão, desci do degrau em que já me encontrava na camioneta e fui apanhar o saco.
De saco na mão, vi a porta fechar-se. Apressei-me, mas a camioneta arrancava, diante dos meus olhos, fazendo uma poeira na qual me perdia e dissolvia.
Corri, gritando. Iam ouvir-me. O casal ia dar pela minha falta. Alguém me veria, acenando com um saco de carcaças. Não era possível. Não era possível.
Foi possível. Foi assim.
Perguntei a um árabe, que me queria vender um «timex», quando haveria outra camioneta.
Riu, mostrando-me exasperantes dentes de ouro. A próxima, só no mês seguinte.
quarta-feira, julho 22, 2009
UM TEXTO QUE POUCO SERVE E NADA TRAZ. PARA QUE CONSTE
Como o meu computador apanhou certa virose cujo efeito, que eu veja, consiste unicamente em que os acentos das palavras caem fora das palavras, estou a tentar o desafio de escrever um texto que evite todos os acentos. Se repararem bem, os acentos foram total e sabiamente evitados neste texto. Se eu fosse mais moderno e escrevesse de acordo com o Novo Acordo, suspeito que mais facilmente, ainda, conseguiria escolher palavras sem acentos. Reparem que, de acordo com o Novo Acordo, nem, por exemplo, o termo «cagado» se acentua, ficando-se no entanto na incerteza, caso eu escrevesse «vejo o cagado debaixo da cadeira», acerca do referente da palavra utilizada: estaria a referir-me a um animal, de casa sobre o dorso, oculto sob a cadeira, ou teria acabado de descobrir, sob a mesma cadeira, o produto de um animal irracional - ou de uma pessoa tornada irracional por dar com o wc ocupado? Mas para prescindir mesmo de acentos, melhor do que escrever de acordo com o Novo Acordo, seria escrever de acordo com a senhora dona margarida moreira, que penso que saibam quem seja, e tenho notado tratar-se de uma mulher de tal forma independente, que depende muito, muito, muito pouco do que a escrita portuguesa em geral determina ou aconselha...
Certo, este texto deixa um bocado a desejar. Falta-lhe, porventura, profundidade. Ou interesse. O seu motivo parece fraco. Em todo o caso, como desafio, tem graça. Pouca, mas, enfim, alguma: conseguimos escrever um texto longo - e, chegados aqui, o desafio pode dar-se por vencido: quem escreveu estas inanidades, poderia certamente escrever mais trezentas e cinquenta posts assim... - sem precisar de um acento que fosse.
Isto consola-me um pouco. Porque, a verdade, resume-se a isto: estou furioso!
Certo, este texto deixa um bocado a desejar. Falta-lhe, porventura, profundidade. Ou interesse. O seu motivo parece fraco. Em todo o caso, como desafio, tem graça. Pouca, mas, enfim, alguma: conseguimos escrever um texto longo - e, chegados aqui, o desafio pode dar-se por vencido: quem escreveu estas inanidades, poderia certamente escrever mais trezentas e cinquenta posts assim... - sem precisar de um acento que fosse.
Isto consola-me um pouco. Porque, a verdade, resume-se a isto: estou furioso!
quinta-feira, julho 16, 2009
CRÍTICOS SEM CRITÉRIO
Os quatro vagabundos estavam sentados lado a lado, num banco corrido. Um deles era negro e tinha um boné. Outro era indiano, não tinha boné. Os dois restantes, brancos, embora muito sujos, estavam de calções.
Fixavam atentamente o anão que, diante deles, subiu para cima da mesa de bilhar e, sem uma palavra, desatou a fazer um sapateado.
Depois, saltou para o chão e foi-se embora. Os seus sapatos, próprios para fazer sapateado, ecoavam pelo chão num cada vez mais longínquo toc-toc-toc-toc.
Um dos vagabundos, talvez o negro, perante o silêncio que se instalou, gritou para algures:
«Então e agora? Já podemos ir embora?»
Outro deles tentou a sua sorte:
«E não há aí um naco de pão para o pessoal, chefe?!»
«Com um bocadinho de manteiga?», acrescentou mais um.
Só o silêncio por resposta.
Desandando do estranho palacete, o indiano ainda se voltou para trás:
«Então e um cigarrito? Ao menos um cigarrito, ein, chefe?»
Foram para a rua.
Um dos vagabundos comentou:
«Claro que não é todos os dias que temos direito a um espectáculo destes...»
Algum deles respondeu:
«Pois não. Mesmo assim, acho que preferia uma carcaça com manteiga».
Concordaram.
«Ou um cigarrito...»
Fixavam atentamente o anão que, diante deles, subiu para cima da mesa de bilhar e, sem uma palavra, desatou a fazer um sapateado.
Depois, saltou para o chão e foi-se embora. Os seus sapatos, próprios para fazer sapateado, ecoavam pelo chão num cada vez mais longínquo toc-toc-toc-toc.
Um dos vagabundos, talvez o negro, perante o silêncio que se instalou, gritou para algures:
«Então e agora? Já podemos ir embora?»
Outro deles tentou a sua sorte:
«E não há aí um naco de pão para o pessoal, chefe?!»
«Com um bocadinho de manteiga?», acrescentou mais um.
Só o silêncio por resposta.
Desandando do estranho palacete, o indiano ainda se voltou para trás:
«Então e um cigarrito? Ao menos um cigarrito, ein, chefe?»
Foram para a rua.
Um dos vagabundos comentou:
«Claro que não é todos os dias que temos direito a um espectáculo destes...»
Algum deles respondeu:
«Pois não. Mesmo assim, acho que preferia uma carcaça com manteiga».
Concordaram.
«Ou um cigarrito...»
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sinto aqui um cheirinho a david lynch
domingo, julho 12, 2009
GLÓRIAS NACIONAIS
Afinal, há que lembrar que temos, num país tão pequenininho, dois portugueses de envergadura internacional.
Dois nobéis contemporâneos: o Saramago (Nobel da Literatura) e o Cristiano Ronaldo (Nobel do Futebol).
E, até, mais parecidos um com o outro do que se diria à primeira vista. E se não é no futebol (porque nunca vi o sr. Saramago jogar à bola), é certamente na escrita!
Dois nobéis contemporâneos: o Saramago (Nobel da Literatura) e o Cristiano Ronaldo (Nobel do Futebol).
E, até, mais parecidos um com o outro do que se diria à primeira vista. E se não é no futebol (porque nunca vi o sr. Saramago jogar à bola), é certamente na escrita!
terça-feira, julho 07, 2009
HISTORINHA
Daisy, fingindo de gatinho, deu no outro dia, contra uma estátua em ferro forjado, a maior das cabeçadas que se pode imaginar.
Conclusão: o gatinho pariu um ganda galo!
Conclusão: o gatinho pariu um ganda galo!
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