A Dona Mariana caçou-me num cafezito sem portas secretas nem saídas de emergência, isto é, onde eu não tinha escapatória possível.
Diz a Dona Mariana que me acha mais gordinho.
E pergunto-me eu por que raio se dizem coisas destas às pessoas. Para as manter informadas sobre as notícias vitais? Para fazer conversa, como antes se falava do tempo a quem se não tinha absolutamente mais nada para dizer? Porque eu terei efectivamente engordado tanto que o comentário lhe sai, irresistível e incontrolável como certos arrotos? Ou simplesmente para chatear?
A Dona Mariana tem um cão com um abajur, uma espécie de funil em cartão à roda do pescoço. Para se não coçar nem arranhar numa ferida.
A Dona Mariana diz que o sobrinho está em casa, engripado. Apetece-me logo vingar-me. Mas seria uma crueldade de gordo, não cheguei a esse ponto. Chego só ao ponto, a que também não resisto, de perguntar se tem tido dor de cabeça ou vómitos. E deixo escapar que «eles» aconselham a que se lave muito as mãos. Sinto que ela não percebe o que quero dizer, deixo morrer a conversa.
A Dona Mariana prepara-se para se despedir de mim com beijos estalados, daqueles que me repugnam.
Digo-lhe:
«Está a ver? Sempre há vantagens no engordar: agora fico com mais espaço para os seus beijinhos...»
Desejo-lhe as melhoras ao neto. Que não seja nada de cuidado. E piro-me!
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