quinta-feira, julho 16, 2009

CRÍTICOS SEM CRITÉRIO

Os quatro vagabundos estavam sentados lado a lado, num banco corrido. Um deles era negro e tinha um boné. Outro era indiano, não tinha boné. Os dois restantes, brancos, embora muito sujos, estavam de calções.
Fixavam atentamente o anão que, diante deles, subiu para cima da mesa de bilhar e, sem uma palavra, desatou a fazer um sapateado.
Depois, saltou para o chão e foi-se embora. Os seus sapatos, próprios para fazer sapateado, ecoavam pelo chão num cada vez mais longínquo toc-toc-toc-toc.
Um dos vagabundos, talvez o negro, perante o silêncio que se instalou, gritou para algures:
«Então e agora? Já podemos ir embora?»
Outro deles tentou a sua sorte:
«E não há aí um naco de pão para o pessoal, chefe?!»
«Com um bocadinho de manteiga?», acrescentou mais um.
Só o silêncio por resposta.
Desandando do estranho palacete, o indiano ainda se voltou para trás:
«Então e um cigarrito? Ao menos um cigarrito, ein, chefe?»
Foram para a rua.
Um dos vagabundos comentou:
«Claro que não é todos os dias que temos direito a um espectáculo destes...»
Algum deles respondeu:
«Pois não. Mesmo assim, acho que preferia uma carcaça com manteiga».
Concordaram.
«Ou um cigarrito...»

1 comentário:

lara_1012 disse...

Muito bom, Lynch Duarte!