terça-feira, agosto 03, 2010

MAIS UM DISPARATE ANUNCIADO

A mim, não parece estranho o clamor que se tem feito ouvir como consequência da anunciada intenção, da Ministra de Educação, de chumbar os chumbos dos alunos; parece-me estranho, pelo contrário, que as associações de pais e encarregados de educação fossem tão rápidas na aclamação da ideia. Que fossem tão previsíveis! Como se, de facto, uma associação de pais não ousasse considerar, e aprovar ou desaprovar, a não ser pela medida do que apetece aos miúdos e do seu aparente interesse imediato.

Não é que eu faça muito gosto no chumbo. Não é que, bem vistas as coisas, não poderia ser preferível um sistema onde os alunos não tivessem de chumbar. Pessoalmente, como professor, odeio auxiliar na decisão de que um aluno tenha de repetir o ano. Como eu próprio, enquanto aluno, chumbei umas quantas vezes, tenho conhecimento, por dentro, do que isso significa de porrada na autoestima (embora, como dizia Bénard da Costa, também eu seja do tempo em que essa palavra não tinha sido inventada). Mas, dito isto, o problema é o da irresponsabilidade de uma ideia que surge sem se perceberem as consequências e - tanto quanto se diz - por razões fundamentalmente económicas.

A grande questão é a de saber se um aluno está preparado para "passar de ano"; se aprendeu e esgotou o que é importante, nesse ano, como base para futuras aprendizagens. E, tal como o vejo, não há volta a dar a este busílis. É claro que se o aluno transita sem essa aquisição de "saberes" prévios, sem o minimum indispensável, não vai poder dar sentido ao conjunto de novos "saberes" com que terá de lidar. A não ser - ah, a não ser que se façam diferentes turmas para um universo de transitados: turmas de meninos mais lentos, turmas de alunos que, tendo passado, de facto nada sabem, turmas de meninos incompetentes (ou seja: sem as necessárias "competências" adquiridas) e, depois, turmas de alunos mais velozes, mais sábios e mais competentes...

É já um pouco isso, de resto, que se passa - em Inglaterra ou nos EUA -, ao nível das escolas e das universidades. Ninguém fica de fora. Mas nem todos têm habilitação para frequentar as melhores escolas e universidades. Multiplicam-se escolas e universidades para os fracos, para os que não sabem, para os que não compreendem, escolas e universidades que, obviamente, mais tarde, no curriculum dos que por lá passaram, não são nenhum convite a que os contratem...

A pura ideia de fazer, por um passe de magia, desaparecer a reprovação é uma fraude. Uma dessas ideias politicamente correctas, aparentemente para democratizar o sistema e oferecer as mesmas oportunidades a todos, que, na prática, na verdade, dão diferentes oportunidades (só aparentemente iguais) ao universo inteiro. É uma ideia que agrada às crianças e aos pais e permite poupar algum dinheiro, portanto, é claro, está destinada a vencer. É sempre tão mais fácil proporcionar satisfação a curto prazo, mesmo que seja à custa da formação dos jovens do país...

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