segunda-feira, agosto 30, 2010

AMERICA'S NOTEBOOK

1. Passe o pretensiosismo do nome, o meu objectivo é extremamente simples; longe de fazer teoria acerca dos Estados Unidos da América, o que retenho é somente o conjunto de surpresas, ideias feitas que se desfizeram, o que observei aqui, o que me chocou ali. Nada de muito fundamentado. Mas, pelo menos a mim, estas descobertas mínimas ensinam-me a penetrar no país.

2. Meu primo, que é o meu Virgílio na visita aos círculos do inferno capitalista, diz-me que, aqui, se define a pobreza como a incapacidade para se manter mais do que um carro. É evidente que muitos americanos nem um automóvel possuem. E, contudo, é certo que vi passar um "homeless", vasculhando no lixo, longas e sujas barbas, roupa estafada... mas com um i-pod!

3. Tudo o que é bom e é mau converge nesta bizarra e contraditória Las Vegas, terra do prazer sem limites, como numa gigantesca Disneyworld para adultos. Luzes intensas, cores por todo o lado, ruído, gente, um grupo de chinesas histéricas numa despedida de solteiro, tipos mascarados de Elvis Presley, restaurantes italianos soberbos, hotéis temáticos (Treasure Island, Circus, Venician, oferecendo uma espectacular Veneza...), onde tudo é falso e, ao mesmo tempo, absolutamente real...

4. Falso porque se diria encenado, como num gigantesco cenário de papel; verdadeiro, porque, efectivamente, o mármore é mármore, a pedra é sólida, os fundamentos revelam-se firmes. (E, numa terceira abordagem, tudo é novamente falso, porque imita, reproduz, reconstitui...).

5. E diz-me, ao jantar, um americano interessante, mas muito contraditório, a que o meu primo me apresentou: "O facto é que, vendo o que quer que se veja da América, fica-se ainda longe de se conhecer a América. Porque qualquer ponto dos EUA é mais diferente de um outro ponto da América, do que, possivelmente, de um qualquer ponto da Europa..."

6. Sei que assim é. Viajando de Houston a Las Vegas, ou de Las Vegas (Nevada) até essas pequenas localidades, em torno dos canyons de Zion, no Estado de Utah, maioritariamente mormon, nada tem que ver com nada: mudamos certamente de paisagem, mas também de ética, mudamos de planeta, passamos de um universo para outro.

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