Eis que lenta, lenta, lenta, lentamente desperta a consciência de Robinson Crusuoé.
Parte do rosto está mergulhado em água; doem-lhe as pernas, os braços: o que teve de nadar para chegar ali, ao princípio da ilha, àquela areia húmida, àquelas rochas aguçadas!
Robinson sabe, ou calcula mas esse cálculo é como um íntimo saber, que ninguém mais sobreviveu no naufrágio.
Soergue-se, vagaroso. Tudo são músculos duros, presos, ineficazes. Olha o céu imenso, de um imenso azul, riscado de pássaros.
Põe-se de pé, obsreva em redor. É quando, pela primeira vez, lhe passa pela cabeça que vai ter de viver sozinho, como um divorciado, recolher despojos, como um trapeiro - despojos do navio naufragado que as ondas lhe entregam. Há madeiras, há ferros, há utensílios. Começa a pensar num universo que terá de construir a partir de nada, ou de quase nada, começa a pensar numa casa que terá de erguer do zero, que o proteja, que o anime, que o abrigue.
Aproxima-se, preso de uma súbita euforia, da costa aonde continuam a chegar materiais vindos do barco afundado. Tenho de me animar, pensa. tenho de trabalhar, pensa.
E, repentinamente, percebe.
«Oh, caraças, estou tramado! Isto vai ter de ser tudo montado ao calhas», soluça, «é tão difícil, nunca se consegue à primeira», chora, infeliz, adivinhando o trabalho que lhe vão dar as peças que lhe chegam à costa, «Nunca conseguirei», chora ele, «Oh, que horror!»
Que trabalho insano, que dias duros, que dificuldades impossíveis...
«Esta merda é toda do IKEA!!!»
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