terça-feira, abril 17, 2012

SOCIOLOGIA DA ENTOAÇÃO

Sou professor de adolescentes de ambos os sexos.
Sou pai de um jovem de dezasseis anos ingratos e difíceis. [Não «ingratos» para ele, mas porque é um rapaz pouco agradecido]. E de uma menina de seis anos.
Com a experiência que tenho, pois, na relação com rapazes e raparigas, vou conhecendo as suas maneiras de entoar as palavras.
Porque, é curioso, os jovens "falam" de uma forma típica, com uma musicalidade que a distingue da maneira de falar dos adultos.
Porque, é curioso, reparem como, em consequência dessa entoação, eles tendem a eliminar os "o" finais. Não dizem "consigo" mas "consigue", não dizem "pronto" mas "pronte", não dizem "cinzeiro" mas "cinzeire".
Porque, é curioso, nessa entoação, ou nessa expressiva forma de cantar o que se quer dizer, os rapazes são diferentes das raparigas: há uma música de miúda [que já começo a captar na minha filha, que não sendo ainda adolescente, mesmo assim, aos seis anos, já principia a entoar de uma certa maneira: com aquela espécie de arrogância que reside inteiramente no modo de falar, mais do que no conteúdo do discurso...], bem como há uma música de rapagão, mais seca - arrogante também, mas de um outro modo.
Temo que tudo isto se perca: não há registos, nem gravações, nem estudos feitos com esse objectivo; não existem comparações nem uma anotação de mudanças ao longo das idades dos putos e ao longo da vida da sociedade. Há tanto trabalho sobre a música popular, e nada sobre o cantar com que os jovens 1: falam uns com os outros, 2: falam com os pais, 3: falam com os professores.
Pelo que proponho a criação de uma nova esfera da sociologia: uma sociologia da entoação.
Tenciono ser o pioneiro desse conhecimento.
Guardem um prémio Nobel para daqui a quinze anos...

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