terça-feira, junho 12, 2012

hoje é assim

Primeiro, os dentes.
São sempre os dentes os primeiros. Chama-se pedra, chama-se cáries, chama-se tártaro.
As rugas, como teias. Não, não como teias: como fissuras que se abrem num solo seco.
Ombros que decaem. Feições que decaem. O universo que decai a partir de um corpo.
Há um joelho que principia a estalar. Se ao menos não doesse, mas dói. Ou se se limitasse a doer, se unicamente doesse, mas não: desfaz-se. É o osso que se transforma em caspa, até que um dia não exista joelho, o corpo procure erguer-se de uma cama e as pernas desabem e se acumulem no chão como um monte de roupa velha.
Caem pêlos. Caem ilusões. Os olhos não têm pontaria.
Sente-se fome de momentos de alegria, mas têm de ser breves, não vá o coração insuportá-los. E a verdade é que a menor alegria se sente sobretudo como arritmia.
A gravidade torna-se um problema grave.

Preferia coleccionar neste ecrã tudo o que ainda me faz feliz. Mas receio que os dedos não consigam... chegar... às teclas..........

1 comentário:

Red Angel disse...

Não é bom quando se sente a alma e envelhecer juntamente com o corpo.