Parece que o nascimento de uma criança deve saudar-se com a mesma alegria devida à doce chegada da Primavera. E eu compreendo: há-de ser porque esse momento, uns dias após o parto, é certamente o único em que o bebé, que já massacrou a mãe para vir ao mundo, ainda, no entanto, não descobriu novas estratégias para continuar a massacrar a mãe e, já agora que está cá fora, também o pai.
Esse curto tempo em que tudo parece agradável e sorridente tem, por isso mesmo, de ser pretexto para festejos e danças. Nos próximos dez anos, pelo menos para os pais, acabaram-se os festejos e a dança é outra!
Nesta base - festejar a pausa que nunca mais voltará - fomos no fim-de-semana a Alverca distribuir uns beijos por um recém-nascido e respectiva família.
Chegados, vimos a menina a dormir docemente. Olhámo-la, enternecidos, trocámos ideias tontas sobre as semelhanças com outros parentes, escondendo caridosamente algumas semelhanças perturbadoras que por acaso pudéssemos ter também detectado.
E, depois, na confusão, fui arrebatado pelo jovem pai e pelo jovem avô para uma taberna de Alverca, onde - a mim, que vinha mal refeito de uma inclemente gripe que atacara com medicação feroz - para uma taberna de Alverca onde, dizia eu, me obrigaram a comer ovos cozidos e a beber uma série de «mines».
«Mas não haverá, não sei, hum, por exemplo uma sanduíche?, apetecia-me uma sanduíche, ou então...», insinuava-me eu a medo, com as pernas ainda doloridas da doença.
Não. Uma taberna não é o Ritz, lembrou-me alguém certeiramente. Ovos e mines.
Sequentemente, tornaram a pegar em mim (que pouca resistência estava capaz de oferecer), e enfiaram-me numa espécie de campeonato de malha, jogo de que não sei absolutamente coisa alguma. Avesso a que me considerem «snob», ciente de que nenhum lema é tão adequado como «Em Roma sê romano», aceitei pôr-me a jogar àquele jogo, com a mesma imprudência e a mesma irresponsabilidade com que uma criança chamada ao quadro, numa aula de matemática, em vez de confessar que não pesca absolutamente nada do assunto, optasse por «resolver» o problema escrevendo por ali uns quaisquer números, absurda e aleatória, mas convictamente. (O que também já me aconteceu!)
Formavam-se equipas renhidas, com tipos de nomes como o Chico Damas, o Preto e o Coxo. E, bruscamente, começou tudo: vi-me apanhado num coro de gritos, num entusiasmo ensurdecedor, com palavras que não percebia, relativamente àquele desporto que, afinal, tinha mais regras do que me parecera. «Truco», dizia um. Acho que era isso. Mas aquilo tinha um significado pré-determinado e, com base nesse grito, fazia-se uma operação demasiado rápida para mim, a partir da qual, de repente, ele me vencia.
Discordava-se. Media-se com um cigarro qual das malhas se encontrava mais próxima de um prego que nunca cheguei a perceber onde estava, que nunca vi. Insultavam-me. O Zé Rabo estava possesso comigo, enervava-se...
Tive de me raspar assim que pude. Deixaram-me ir. Pudera! Devem ter ficado tão aliviados como eu...
Preferi voltar ao círculo feminino, arrulhando, terno, em torno do recém-nascido. Que, por um breve lapso de tempo, até bonito me pareceu!
terça-feira, outubro 07, 2008
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2 comentários:
Pensava que era só na escola que se jogava à malha em que todos nós, meros professores, somos os pinos. Tens a certeza que não sabes as regras?!
Fizeste-me rir à brava!
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