quinta-feira, outubro 30, 2008

A RECONVERSÃO III

Era uma voz desconhecida. E, no entanto, paradoxalmente, reconhecia-a. Mais complicado, ainda: reconhecia-a sem a reconhecer, como se lhe chegasse de um Além onde só estivera em sonho, ou mesmo mais recuada e longínquamente, num sonho de um sonho...

Olhou para o espelho; curiosamente, era dali que a voz familiar-desconhecida lhe soava.
E tornou a reparar no seu estranho rosto reflectido.
Mas não. Não era já o seu rosto. Nem o de sempre, nem aquele em que acabava de se metamorfoser. Via agora no espelho, como se o espelho fosse uma televisão ou um intercomunicador com imagem, o rosto de uma criatura estranha, que lhe falava serenamente. Havia ruído, um pouco de granulado, uma imagem não muito nítida, um pouco desfocada por vezes - e uma pessoa, um ser, um bicho, um monstro, que era aquilo?, que ele não conhecia mas, de algum modo, vagamente reconhecia.
E que lhe repetia:
- Não te assustes, Kal-El! A hora da reconversão chegou! Estás a readquirir o teu corpo, o teu ser. O ataque não tardará. Os humanos estão desesperados. A crise alastra. É agora ou nunca, Kal-El!

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