quinta-feira, abril 09, 2009

DESVENTURAS DE UM HUMORISTA COBARDOLA

O meu humor é um animal perverso e neurótico. Como eu próprio. E se, no humor bem conseguido, se trata sempre de um equilíbrio entre o racional e o irracional, então, no caso destes dois animais (eu e o meu humor), o mínimo que se deve dizer é que o equilíbrio tende a revelar-se bastante desequilibrado.

Às vezes, saem-me frases catastróficas. Depois, arrependo-me. Na altura, só consigo perceber a graça da matéria: que fira, ou que choque, ou que estrague, tudo são, infelizmente, consequências que não prevejo, situadas para além do que sou capaz de visualizar no momento em que me faço de engraçadinho...

Por exemplo, no blogue de uma amiga (clique aqui) fazia-se alusão ao alter-ego de diversos caixas-de-óculos. O que se dizia (para quem não tenha clicado ali) era, basicamente, e numa discreta alusão a um post meu, que alguns caixas-de-óculos conhecidos (como o Clark Kent, o Peter Parker etc.) são nada mais nada menos do que... autênticos super-heróis.

Alguém, num comentário, sugeria à autora que fizesse o favor de retirar da lista o «palonço do Homem-Aranha!»

E, num gesto de uma agressividade triste e gratuita, insinuei que o autor daquela comentário tinha de ser um caixa-de-óculos totó cujo alter-ego seria um caixa-de-óculos ainda mais totó. (Bem, foi levemente mais do que uma «insinuação»: foi isto mesmo que acabaram de ler o que literalmente eu escrevi!). A ideia, em si, temos de concordar, tem alguma graça. Pelo menos, pareceu-me... parecia-me...!

Muito mais tarde, caí em mim. Muito mais tarde. À noite, mais precisamente, tive um pesadelo que ainda agora me causa arrepios. No horroroso sonho, Angel, super-heroína e autora do post sobre os caixas-de-óculos, insistia, num telefonema seco, em que eu me fosse encontrar com ela a um café, onde me esperava uma surpresa. A surpresa era, tchan-tchan, o seu irmão (e a sua mãe), sendo que o irmão, que no meu sonho envergava um kispo azul e vinha de canadianas por causa de uma perna engessada, era precisamente o autor do dito comentário. (Talvez Freud nos ensinasse que a perna fracturada funcionava como subtil referência aos danos que o meu comentário ao seu comentário teriam provocado).

Do que eu enevoadamente consigo recordar, o senhor estava empenhado em bater-me com uma das canadianas, perante o veemente aplauso da mãe e da irmã.

Escusado será acrescentar que acordei perlado em suor, com o telemóvel na mão, teclando uma nervosa mensagem à minha amiga Angel no sentido de que, se ela achasse que o autor do comentário fosse pessoa «ofendidiça», capaz de reagir mal ao «meu comentário sobre o seu comentário», pois que o eliminasse.

E, para que não restassem quaisquer equívocos, esclarecia: «Eliminar o meu comentário, não eliminar o teu irmão!»

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