sexta-feira, junho 26, 2009

MENTES PODEROSAS - VI























clicar na imagem para aumentar

terça-feira, junho 23, 2009

EM BUSCA DO NIRVANA

Realizo penosos exercícios em demanda urgente de um nirvana.
Eis, aliás, uma porta de entrada: por que serei eu este corpo sentado sobre uma cadeira e não esta cadeira sobre a qual pesa um corpo?
Sou uma cadeira. Sou uma cadeira. Sou uma cadeira. Sinto como minha esta perna cinzenta de ferro. O meu coração bate algures no assento de madeira. Aquele pé humano não é o meu. Aquele pé que enverga uma sapatilha castanha comprada numa promoção do Lidl não me pertence. Porque eu sou uma cadeira. Mas o pé humano não deixa de ser vaga e preguiçosamente interessante. A sapatilha tem pontinhos. Serei capaz de os contar? Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, dezasseis, vinte e cinco, trinta e sete. Ora. Estou a aldrabar. Já não me apetece contar. Oiço o tiquetaque de um relógio. Lento, lento, lento. Lento, lento, lento. Não se trata do meu relógio porque, como já assentámos, sou uma cadeira. «Assentámos» é, pois, o mot juste. (Devo ser uma cadeira poligolota.) A menos que tenha deixado de ser cadeira. Sou o tiquetaque. Meu Deus, sou um tiquetaque: é então assim que se sente um tiquetaque: nada de corpo, nada de olhos ou de cabelo, nenhuma comichão nem eczemas ou outras doenças de pele, nenhum sono ou fome, nem pés dormentes...
Uma folha. Se calhar sou uma folha.
Hã?! Folha...?
O quê? Há um diabo de um aluno, na porra interminável que é este exame que estou precisamente a vigiar, que me pede nova folha?

Ainda falta uma hora para o exame acabar? Hora e meia?

Ah! Quem me dera ser tiquetaque...!

segunda-feira, junho 22, 2009

quinta-feira, junho 18, 2009

E A ESPANHA AQUI TÃO PERTO

Coisa estranha, a memória. Que partidas nos não prega, confundindo ou recriando, obnubilando ou seleccionando, sublinhando ou ocultando.

A minha intervenção, assídua, num blogue de cinema tem-me feito pesquisar as minhas recordações, à procura dos filmes que vi na infância, na adolescência, ou na maturidade (que chegará um dia: portanto, esta última palavra diz menos respeito à memória do que à profecia...)

E, de repente, um destes dias surgiu-me na cabeça um certo filme. Curiosamente, a película parecia enterrar os pés numa zona onírica da minha memória, como se o tivesse visto numa outra vida. Fui totalmente incapaz de me lembrar, por exemplo, que idade teria quando o vi. Podia ser criança, mas, por um simples e eficaz exercício de dedução, calculei que não fosse criança. E onde o vi? Em Moçambique? Já em Portugal? Com amigos? Sozinho? Por que raio esse contexto está como que imerso numa sala onde todos fumam e o fumo enevoa por completo o ambiente...?

Contudo, conversando com uma amiga acerca disto, atirei-lhe à cara com algumas referências de uma precisão impressionante.

Em primeiro lugar, o nome do filme. Cria Cuervos. (Que significa Cria Cuervos? Sei lá!); em segundo lugar, o realizador: Carlos Saura. Em terceiro lugar, uma actriz: Geraldine Chaplin, a filha de Charles Chaplin. Em quarto lugar, que havia crianças e, certamente, tudo se desenrolava em torno de uma menina de seis ou sete anos com um rosto muito triste. Em quinto lugar que, provavelmente logo no início do filme, essa menina coloca um disco de vinil num gira-discos. Em sexto lugar, que das espiras do disco rodando sai uma música que nunca mais esqueci. Não sei de quem era, quem a cantava, se um grupo, se uma cançonetista, não sei. Mas trauteei-a toda. Acerca do filme, nada mais: um policial? um drama? que outras personagens haveria...? Mistério. Silêncio. Nevoeiro.

Deixo-vos com a música em causa...

sábado, junho 13, 2009

SUPORTEM-ME UM MINUTO DE SNOBISMO, POR FAVOR

Gosto muitíssimo de poesia.

Considero, contra o Espírito do Tempo, a experiência poética, quer como poetante, quer como leitor de poesia, uma das experiências inúteis mais gratas que há. Em parte, porque diz respeito às palavras e eu tenho um bom «ouvido da língua», por analogia com aquelas pessoas de quem se diz terem um bom «ouvido musical».

De certa forma, aliás, a poesia tem ainda que ver com música: quando se trata do poema, o «ouvido da língua» é mesmo uma espécie de «ouvido musical», tornando clara e indiscutível, neste caso, a afirmação de Walter Pater, segundo a qual «toda a Arte aspira à condição de música».

Mas, mais do que a sonoridade, mais do que essa musicalidade contida num verso feliz, a poesia interessa-me como campo fértil ao jogo das palavras, à surpresa e ao espanto que elas possibilitam sempre que se trata de fugir ao lugar comum e ao modo de falar anónimo, de toda a gente, todos os dias: sempre que se trata de a levar a dizer o que ainda há um instante era o indizível. Ao que era somente um pressentimento. Era um sentimento. Era uma visão. (Chamei, estranhamente, Ouvisões ao projecto que, na Biblioteca da minha escola, animei em torno da «experiência poética»...)

Um dos meus poetas predilectos é Leopardi.
Poderia dizer que me encanta a conciliação entre a forma clássica, belíssima, bebida em Homero, Píndaro ou Anacreonte, e um pessimismo a que sou muito sensível, romanticamente triste e negro.

Há um poema seu que se chama O Infinito. Não vou transcrevê-lo, vou relê-lo.

Principia por falar de algo tão simples como «esta erma colina» e uma sebe que retira ao seu olhar a possibilidade de alcançar o extremo do horizonte. E tudo isto são palavras e expressões lindíssimas, a «sebe que, por diversos lados, ao olhar exclui» o que este buscaria, ou, por exemplo, esse «extremo do horizonte» que é, literalmente, o «último horizonte» (Dell'ultimo orizzonte).

E, depois, diz-nos como, olhando «intermináveis espaços para além dela», da sebe (e hesito, esperando pela ajuda tradutora de quem saiba mais italiano do que eu: «interminati» será realmente «intermináveis» ou, por exemplo, «intermitentes»?), intermináveis espaços e «sobre-humanos silêncios» (não é belo? não é belo? eu não dizia...?), sente, bruscamente, um baque. Ou quase. Não chega a sê-lo. «Ove per poco il cor non si spaura»: então por pouco o coração não se sobressalta. Ouve o sussurrar do vento sobre o infinito silêncio, o silêncio como absoluto fundo desse murmúrio - e é o silêncio mal quebrado, mais o pressentimento intermitente do vasto horizonte (que, no entanto, lhe está excluído, roubado ao olhar), o que lhe dá a ideia de uma vastidão, de uma imensidão sem fim.

E termina, musicalmente, com a perturbadora expressão do prazer de um naufrágio:

Cosi tra questa immensità s'annega il pensier mio: E il naufragar m'è dolce in questo mare.

«Assim, no meio desta imensidade se afoga o pensamento [ou: o pensar?] meu: e o naufragar me é doce neste mar.»

Então? Então? Eu não vos dizia?

sexta-feira, junho 12, 2009

IMPREVISÃO ou CEGO SURDO E FELIZ

Serei eu uma daquelas sociedades em que a elite brindava ainda ao futuro e à alegria, sem escutar os ensurdecedores sinais do cancro que as extinguiria? a revolução sangrenta a latejar-lhes nas veias? um karakatoa ou um vesúvio prestes a desintegrá-los? uma bomba atómica assobiando dos céus - enquanto a elite (eu, neste caso) ergue ingénua e tolamente aos mesmos céus a flute de champanhe?

quarta-feira, junho 10, 2009

ÀS VEZES PERGUNTO-ME SE, COMO EDUCADOR...

Pois eu, que tenho vizinhos tão antipáticos, descubro naquele meu vizinho simpático e que cheira mal da boca uma personagem deliciosa, embora, por razões diferentes, mas óbvias, me vá procurando manter afastado de todos eles...

Estou com os meus dois rebentos no carro. O vizinho surge do nada, debruça-se sobre a janela do veículo, num gesto generoso de que depois se salvará limpando-se e sacudindo vigorosamente o cotovelo (porque, confesso, o meu bólide tem sempre um ar muito sujo; e é que talvez não seja só o ar, talvez, aqui, o ar corresponda mesmo aos factos...) .

Ele tem, coitado, sob a halitose que empesta o cubículo da viatura em que enfiou a cabeça e parte do tronco, um cravo que estende à minha Daisy.
Daisy recebe o cravinho. Não agradece. Amua. Emburra. Embirra.
Enquanto, ao volante, no fundo aguardando uma sucessão de vergonhas, vou, porém, retoricamente teimando, «Então, Daisy? Não agradeces ao vizinho? Diz obrigado, filha...», ao lado dela, o mano Dudu, furioso com a reacção da menina, lhe arranca das mãos a flor e bate uma, outra e outra vez com ela no joelho nu da petiza. Está a discipliná-la. Diz obrigado, diz obrigado, diz obrigado, insiste. O vizinho afastou-se da janela, já nervoso, já triste e ainda com mau-hálito. É um alívio. Relativo.

Arranco vagaroso e coradíssimo, deixando lá para trás o simpático homem com o ar infeliz das grandes ocasiões e a camisola com duas espécies de cotoveleiras que não são senão o sujo que lhe ficou agarrado por se apoiar à janela do meu carro; vejo, pelo espelho retrovisor, nos bancos de trás, o meu filho, ainda furibundo, a minha filha, chorando muito e um cravinho arruinado...

terça-feira, junho 09, 2009

TCHAK!

Julião conseguira que os pais o deixassem levar a sua mana, Perlimpimpim, às festas da Rã, nessa auspiciosa noite em que actuava Quim Barreiros.

A irmã pequenina, quatro minúsculos aninhos, dependurava-se-lhe da mão.
Julião nem por um momento largou a mão de Perlimpimpim. Atravessavam a multidão compacta de velhos e de jovens que dançavam euforicamente, enquanto, de um palco profusamente iluminado, Quim Barreiros, com o chapéu preto, o bigode e o acordeão, assentando-lhe como tiques pessoais, cantava as costumeiras cançonetas de duplo sentido.

Sentia a mão de Perlimpim enfiada na sua mão suada, no meio de rapazes que nadavam por entre a multidão, para salvar copos plásticos cheios de cerveja; sentia a mão presa ao corpinho da menina, o qual, mesmo pequenino, se lhe tornava pesado por causa da resistência que opunha: a menina que esbarrava com pessoas, ou que fazia força para ficar para trás, ou que tentava seguir noutra direcção.

Julião não a largava, porque temia mulheres ansiosas por ser mães, prontas a raptar, temia pedófilos, ladrões e traficantes de órgãos. Gostava de sentir o peso da resistência de Perlimpimpim, entre bêbedos e coros. Aliás, a menina habituava-se, ajustava-se-lhe ao movimento, seguia-lhe o ritmo: já lhe sentia a mãozinha mais leve, sem opor resistência, sem procurar outras direcções, sem se atrasar contra os corpos da multidão.

E Barreiros cantava, cantava, cantava...

Olhou, comovido, para a sua mana que o seguia agora tão sem luta, tão adestrada.
Olhou. Não havia mana. Havia a mão da mana. Só uma mão, decepada pelo pulso!

domingo, junho 07, 2009

A FINTA

Guardo no meu espírito o momento mais glorioso de toda a minha vida.

Eu era um razoável jogador de basquete: aprendera a enganar os adversários, fingindo que ia passar a bola para o companheiro daqui e passando-a, afinal, para o dali. O meu problema, se bem me lembro, é que, frequentemente, acabava enganando também os colegas de equipa. Como entortava os olhos e fazia «bluff», aquele a quem acabava por passar nunca estava à espera da bola e perdia-a, irremediavelmente.

Mas se, pelo menos, no basquete tinha uma certa graça, ainda que pudesse não ser eficaz, no futebol fui sempre um desastre. Um sismo. O terror, mas o terror do meu grupo!

Essa é a razão por que não posso deixar de recordar, maravilhado, o dia em que, em pleno jogo, fugia eu com a bola ao Rui Lagartixo - reverenciado por todos como uma espécie de Cristiano Ronaldo -, aquele se aproximou de mim, eu passei a bola do meu pé direito para o meu esquerdo, mas, logo após, quando o Rui a procurava no pé esquerdo, a tornei a passar para o direito, tudo num movimento tão despropositado em mim, tão inadvertido, tão, aliás, sem eu o querer nem saber bem como o estava a fazer, que o Rui Lagartixo se atrapalhou e caiu redondo no chão.

Lembro-me, como se estivesse a ver num filme, da multidão que enchia o ginásio (ou será a minha memória que acrescenta essa multidão...?) a pôr-se de pé, ovacionando-me, incrédula, ansiosa por me levar em ombros. Havia lágrimas. De espanto, só podiam ser de espanto.

Nunca mais fui capaz de repetir uma tal finta. Nem com os garotos de três anos, na praia...

ORIENTAÇÃO

Devemos ter na vida, diz-me o senhor Azevedo, pelo menos uma certeza: nem que seja uma ideia suficientemente segura para nos nortear os passos.
Penso que tenho uma certeza:
O uísque, para mim, deve ser sempre com cinco pedras de gelo.

HÁ QUEM DIGA QUE PODE ATÉ PERDOAR, MAS NÃO ESQUECE...

... Eu, pelo contrário, posso esquecer.
Na minha idade, é mesmo perfeitamente natural que esqueça.
Mas não perdoo.

Deve ser precisamente por essa razão que chego a este ponto do meu percurso com uma longa lista de questões que me recuso a perdoar, embora, para ser sincero, não me lembre muito bem em que consistiu cada uma dessas questões.

quarta-feira, junho 03, 2009

um caso

O macambúzio senhor Portugal não consegue tirar do espírito a vizinha Espanha...

NOVIDADES

É só para dizer, queridos amigos, que o meu silêncio neste blogue nada tem de preocupante. Acontece tão somente que me tenho distribuído por alguns outros blogues, nomeadamente um sobre cinema (em conjunto com o grupo de cinema da eslav, o Gostos Discutem-se), outro de poesia, mais um de textos do Caradanjo...

Entretanto, no blogue do Clube de Cinema, aventurei-me a aprender a usar os recursos tecnológicos que tenho à minha disposição. Reparem. Por exemplo, cliquem realmente no nome em causa.Viram? É um exemplo. Outro? Cá vai.





Vamo-nos vendo por aí...