domingo, junho 07, 2009

A FINTA

Guardo no meu espírito o momento mais glorioso de toda a minha vida.

Eu era um razoável jogador de basquete: aprendera a enganar os adversários, fingindo que ia passar a bola para o companheiro daqui e passando-a, afinal, para o dali. O meu problema, se bem me lembro, é que, frequentemente, acabava enganando também os colegas de equipa. Como entortava os olhos e fazia «bluff», aquele a quem acabava por passar nunca estava à espera da bola e perdia-a, irremediavelmente.

Mas se, pelo menos, no basquete tinha uma certa graça, ainda que pudesse não ser eficaz, no futebol fui sempre um desastre. Um sismo. O terror, mas o terror do meu grupo!

Essa é a razão por que não posso deixar de recordar, maravilhado, o dia em que, em pleno jogo, fugia eu com a bola ao Rui Lagartixo - reverenciado por todos como uma espécie de Cristiano Ronaldo -, aquele se aproximou de mim, eu passei a bola do meu pé direito para o meu esquerdo, mas, logo após, quando o Rui a procurava no pé esquerdo, a tornei a passar para o direito, tudo num movimento tão despropositado em mim, tão inadvertido, tão, aliás, sem eu o querer nem saber bem como o estava a fazer, que o Rui Lagartixo se atrapalhou e caiu redondo no chão.

Lembro-me, como se estivesse a ver num filme, da multidão que enchia o ginásio (ou será a minha memória que acrescenta essa multidão...?) a pôr-se de pé, ovacionando-me, incrédula, ansiosa por me levar em ombros. Havia lágrimas. De espanto, só podiam ser de espanto.

Nunca mais fui capaz de repetir uma tal finta. Nem com os garotos de três anos, na praia...

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