Coisa estranha, a memória. Que partidas nos não prega, confundindo ou recriando, obnubilando ou seleccionando, sublinhando ou ocultando.
A minha intervenção, assídua, num blogue de cinema tem-me feito pesquisar as minhas recordações, à procura dos filmes que vi na infância, na adolescência, ou na maturidade (que chegará um dia: portanto, esta última palavra diz menos respeito à memória do que à profecia...)
E, de repente, um destes dias surgiu-me na cabeça um certo filme. Curiosamente, a película parecia enterrar os pés numa zona onírica da minha memória, como se o tivesse visto numa outra vida. Fui totalmente incapaz de me lembrar, por exemplo, que idade teria quando o vi. Podia ser criança, mas, por um simples e eficaz exercício de dedução, calculei que não fosse criança. E onde o vi? Em Moçambique? Já em Portugal? Com amigos? Sozinho? Por que raio esse contexto está como que imerso numa sala onde todos fumam e o fumo enevoa por completo o ambiente...?
Contudo, conversando com uma amiga acerca disto, atirei-lhe à cara com algumas referências de uma precisão impressionante.
Em primeiro lugar, o nome do filme. Cria Cuervos. (Que significa Cria Cuervos? Sei lá!); em segundo lugar, o realizador: Carlos Saura. Em terceiro lugar, uma actriz: Geraldine Chaplin, a filha de Charles Chaplin. Em quarto lugar, que havia crianças e, certamente, tudo se desenrolava em torno de uma menina de seis ou sete anos com um rosto muito triste. Em quinto lugar que, provavelmente logo no início do filme, essa menina coloca um disco de vinil num gira-discos. Em sexto lugar, que das espiras do disco rodando sai uma música que nunca mais esqueci. Não sei de quem era, quem a cantava, se um grupo, se uma cançonetista, não sei. Mas trauteei-a toda. Acerca do filme, nada mais: um policial? um drama? que outras personagens haveria...? Mistério. Silêncio. Nevoeiro.
Deixo-vos com a música em causa...
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