quarta-feira, maio 17, 2006

MAS ENTÃO SÓ O FREUD É QUE PRECISA DE SER REVISTO, NÃO?

Há alguns anos, quando o Y era ainda meu amigo e acabara de ter uma filha, não pegava na menina ao colo nem via com bons olhos que alguém se atrevesse a fazê-lo, e dizia, peremptório:
- Não se deve fazer isso. Ficam com uma perspectiva completamente distorcida do mundo: centrada neles próprios e vendo tudo e todos de cima para baixo.
Tenho de vos dizer, desculpem, que na altura as palavras de Y, a quem eu devotava uma admiração praticamente ilimitada, faziam para mim muito sentido, como, aliás, todas as suas teorias (Y era um teorizador nato). Neste caso particular, um sentido porventura bizarro e cruel, mas inegável.
Com o tempo, porém, Y passou-se.
Cortou relações comigo e com o resto dos amigos e da família. De mim, dizia que eu o perseguia e o vigiava escondendo-me por trás de caixotes de lixo. Parece que uma vez me terá mesmo visto a espreitá-lo, meio-oculto pelo seu frigorífico. Tudo, aliás, em conluio com a família - e, principalmente com a mãe, que ele acusava de estranhas macumbas.
A minha ideia, segundo ele, era apoderar-me de um programa de computador por si inventado e com o qual projectava tornar-se um segundo Bill Gates.
Pensando em tudo, recordando isto, julgo que terá havido, da minha parte, alguma sabedoria instintiva no facto de nunca ter passado as suas teorias à prática, por muito que me fascinassem; e nunca ter sido capaz de não pegar no meu filho ao colo...

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