O ateismo é uma posição insustentável; considero-me perfeitamente insuspeito para fazer uma afirmação deste teor: na verdade, sou ateu.
O que mostra a existência de Deus não é, certamente, a retórica cartesiana, querendo fazer-se passar por uma pura «demonstração», assumindo como adquirido que um «ser perfeito mas inexistente» seria uma contradição nos termos. Descartes não tem razão: posso estabelecer, por exemplo, um conceito como o dos «mil euros que existem na minha carteira»; é evidente que o conceito de mil euros «existentes» na minha carteira «exige» que estes lá estejam (caso contrário, já não poderia ser o conceito dos «mil euros lá existentes»); mais: eu próprio bem gostaria de poder secundar essa exigência, de a fazer também, mas o facto é que não estão nem nunca lá estiveram, e não sei a que entidade possa endereçar a minha reclamação...
Também me não parece que por via de Pascal se encontre qualquer prova: apostar em Deus, é tudo o que o filósofo tem para aconselhar, numa espécie de piedoso truque - porque qualquer jogador sabe que se apostar em Deus e Ele não existir, paciência!, morro sem me aperceber sequer disso, enquanto que se, pelo contrário, não apostar e Ele existir, irei perder para toda a Eternidade...!
Isto pode fazer-me pensar duas vezes, mas não constitui realmente uma prova...
A única que me parece aceitável, é a mais antiga e a mais simples de todas: não se trata, naturalmente, do facto de o mundo ser perfeito, que, como podemos, aliás, observar facilmente, não é - ou não haveria necessidade de se inventar e produzir milho transgénico -, mas de ser uma construção complexa e, como tal, inteligente. E o homem, como resultado complexo de uma evolução no sentido do cada vez mais complexo, não pode certamente ser o composto arbitrário e darwinista de uma sucessão de acasos guiada unicamente por leis de adaptação. É, com certeza, mais do que isso. Embora, às vezes, baste um bando de energúmenos a destruir convictamente uma plantação de milho, ou a existência de alguém como a Carolina Salgado, para me regressarem as dúvidas...
A única pergunta que me parece, pois, sensata, é: e que Deus seria esse? Um Ser eterno e infinito, separado do mundo, criador desse mundo, ou simplesmente o Deus do panteísmo, o Logos, a dinâmica coerente da própria natureza, a esta imanente, uma força imperfeita mas não inteiramente cega, amoral mas inteligente?
É a única pergunta sensata. Não que a mim, pessoalmente, ela me interesse.
Antes manter-me ateu.
segunda-feira, agosto 27, 2007
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1 comentário:
Ora cá está o homem/prof de filosofia em acção...
Nem penses que vou comentar o teu ateísmo, é teu e não meu.
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