segunda-feira, agosto 27, 2007

TRAGICOMÉDIA

Dizia-se que era um homem tão ridículo, que todos os seus dramas, imensos e mesquinhos, com os quais queria recolher a compreensão e a solidariedade pesarosa dos outros, nunca fizeram senão arrancar as gargalhadas bem-dispostas de quem o ouvia.

Quando teve a sua única filha e viveu, depois de uma primeira, natural e breve euforia, o período talvez mais negro da sua vida, visto que a criança nunca o deixou dormir tranquilamente uma noite que fosse, contava isto para que o consolassem, muito olheirento, coitado, com um tom olivácio e, na verdade, este drama - comparável, nos efeitos, à tortura da privação do sono enfrentado por certos heróis -, nele, tinha qualquer coisa de cómico a que ninguém resistia.

Suicidou-se.

Infelizmente, até a sua trágica morte teve uma nota falsa: porque, para se enforcar, não arranjou outra corda que não fosse a corda de saltar da sua filha, com joaninhas vermelhas...

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