Devo uma explicação. Tenho muito prazer.
Num anterior «post» associava, entre parêntesis e sem mais comentários, Ana Drago a Guterres, como exemplo do que é excepcional, pela positiva, no quadro da mediocridade em que se afunda a paisagem partidária portuguesa.
Se, em relação a Ana Drago, não me chegaram ecos de espanto, já em relação a Guterres tive inúmeros sinais da mais profunda estupefacção.
Guterres cometeu, de facto, um tenebroso erro político. Procurou ser um Gentleman, no mais nobre sentido da palavra, num país da treta. Os países da treta não lidam bem com Gentlemen. Não os entendem e, portanto, acabam por não os merecer. E, como dizia Talleyrand: um erro, em política, pode ser pior do que um crime.
Guterres é um homem cultivadíssimo. É engenheiro, o que só lhe fica evidentemente bem, sem que, no seu caso, isso signifique o desenvolvimento de um único hemisfério e o total bloqueio de outro. Ou seja: em Guterres os dois hemisférios cerebrais funcionam em pleno, revelando-nos um homem que sabe de números E de poesia, planeia pontes MAS ouve ópera, raciocina científica MAS TAMBÉM artisticamente, fala línguas e argumenta com uma invulgar agilidade. Basta fazermos a comparação com praticamente qualquer outro líder partidário português para termos a noção de que estamos perante pessoas que jogam em campeonatos diferentes. Pois bem: o que lhe valeu o seu engenho argumentativo foi, entre os portugueses, a imagem de verborreico e o nome de «picareta falante», que lhe inventou o rei da maledicência, do ataque gratuito e dos copos, que é Vasco Pulido Valente!
O grande desígnio de Guterres, se bem se lembram, era o diálogo. Entre todos os sectores e em todas as áreas, esforçou-se denodadamente por incentivar o diálogo. Não é estranho que essa tentativa, porventura ingénua, tenha tão facilmente passado por fraqueza, por falta de convicção ou de firmeza? Não sei se o diálogo terá sido sempre bem conduzido por ele. Se não terá errado. Pôr portugueses a dialogar com seriedade é obra. Mas daí à firmeza a raiar a intolerância com que o seu Delfim de então, José Sócrates, acabou por conquistar o Poder e governar Portugal vai uma diferença que nos permite pôr os dois lado a lado... e chorar de saudades!
Finalmente, e isto é o pior, Guterres ficará na História como o exemplo extremo de cobardia, como se tivesse abandonado o lugar que principiava a tornar-se pantanoso, no momento em que mais se esperaria que tivesse coragem de cumprir a sua missão até ao fim. E considero isso, essa imagem de indignidade, a maior das injustiças que o povo comete em face de um gesto, invulgaríssimo, é certo, entre os políticos portugueses, de verdadeiro desapego pelo Poder. Guetteres deixou o governo para outros, porque «tirou as devidas ilações» do voto dos portugueses, quando o PS perdeu a maioria das Câmaras do país.
Aproveitou a porta aberta? Pois sim. Estava cansado de governar? Talvez. Quem não estaria de um país destes?
sábado, julho 12, 2008
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