Havia pior do que aquelas. A rainha, que sentia as entranhas devoradas de inveja e ciúme pelo facto de ser eu, tão mais novo, o líder daquela delirante expedição, e fazia menção de nunca pronunciar o meu nome, chamando-me, quando precisava, do alto da sua realeza, com um mero estalar de dedos carregado de superioridade e desprezo.
A discussão de que vos falo só acalmou quando a rainha me estalou, uma vez mais, dois dedos e eu lhe voltei ostensivamente as costas.
O silêncio caiu com uma força quase esmagadora no interior da sala habituada ao ruído...
E no momento seguinte, pareciam todas mais calmas, mais leves, mais suaves, quase doces: era um paradoxo igualmente insuportável, o espectáculo de fêmeas tão feias emitindo aqueles arrulhos, aquelas vozes de veludo, como se lhes escorresse ternura das bocas preparadas para gritar e cuspir.
Soube depois, muito mais tarde, que a rainha passara o resto do dia a chorar. Não vi - estivera fechado no meu próprio cubículo privado a chorar: no meu caso, de raiva por não poder bater-lhes!
O Professor Karamba alertava-me, agora, para os problemas que se abatiam sucessivamente sobre a «nave ronceira», como a designavam os velozes Angelius.
- Acha que são elas? - perguntei. - Tentativas de vingança?
- Se não conscientemente, inconscientemente... mas...
A rainha estalava-me, entretanto, os dedos ossudos. Calámo-nos. Estalou com mais força. Espirrou um humilhante «pssssiu».
Pus-me de pé, enervado.
Aproximei-me dela:
- Oiça! Se... - principiei.
Não tive tempo de acrescentar uma única palavra. Porque a rainha falou, começando imediatamente a chorar:
- Os Glauss! Vão atacar-nos. Estão em todo o lado!
[CONTINUA]
domingo, julho 06, 2008
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