sexta-feira, julho 11, 2008

O QUE FAZ UMA POLÍTICA DE ENSINO-PARA-OS-POBREZINHOS

O senhor Paulo Rangel não me interessa menormente.
O seu discurso gongórico, retoricamente aplainado, ensaiado certamente muitas vezes ao espelho e «dito» (no sentido em que se fala de «dizer» poesia), na Assembleia da República, num falsete anasalado, revela, em geral, pouco interesse. Prestou-se bem aos apartes jocosos e aos sarcasmos das raposas velhas do PS. É bem feito. Que se entredevorem!

Refiro-me aqui ao discurso, «en passant», porque no meio de uma profusão de figuras de estilo, tinha o mérito de, quase por acaso, chamar a atenção para um pormenor frequentemente esquecido:
Pensa-se, dizia Paulo Rangel, que o «facilitismo» é a melhor forma de ajudar os alunos pobres, os meninos das classes mais desfavorecidas - e isso, concluía ele, é um erro crasso!

O «facilitismo» significa, a médio ou a longo prazo, retirar aos estudantes economicamente mais debilitados a única verdadeira oportunidade de se formarem com qualidade e de se tornarem, do ponto de vista cultural, pessoas de excelência: onde, e com quem, teriam oportunidade de aprender o melhor da melhor forma? De conviver com a Poesia e com a Arte, de preferir bom teatro e bom cinema? Onde mais - e com quem - aprenderiam a argumentar e a debater? De que outra maneira apurariam o gosto, conheceriam a delicadeza de não atender o telemóvel numa conferência, durante um filme ou numa sessão seja do que for? Que outras oportunidades teriam e terão, alguma vez, de ganhar bolsas de estudo que lhes permitam ser aceites nas melhores universidades do estrangeiro, em competição com os mais qualificados e promissores jovens do mundo inteiro? Onde e com quem aprenderão a não dizer «sêjamos», «vistes» ou «tem a haver com»...?

Basta olharmos para a qualidade média dos políticos portugueses para nos inteirarmos. Com poucas e honrosas excepções (ocorre-me Ana Drago e Guterres: e, depois, há uma espécie de neblina selectiva na minha memória que me não deixa ser capaz de associar mais ninguém a esse campeonato), da Esquerda à Direita, a «classe» política é um exemplo feroz do mal que o facilitismo escolar pode provocar.

Um Ministério da Educação a sério, bem preparado, de gente culta, veria isto. Mas o Ministério, coitado, é, ele próprio, um exemplo daquilo que o eduquês pode produzir; e tem, é verdade, preocupações mais urgentes: criar uma galeria com as fotografias de todos os ministros que passaram pela 5 de Outubro desde 1962.

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