quarta-feira, julho 16, 2008

O REGRESSO DE J. C.

Jesus Cristo regressou à terra no dia 6 de Julho.

Esteve, aliás, em Lisboa. Ao que consta, por volta das quinze horas desse mesmo dia mostrava algum espanto pelo facto de não ter conseguido encontrar pescadores dispostos a segui-lo. (Mas os pescadores preparavam precisamente uma onda de protestos contra a «intransigente política da União Europeia»).

As únicas pessoas que viu capazes de o acompanhar por todo o lado, eram os membros de um casal, mas essa possível colaboração depressa veio a revelar-se um equívoco: tratava-se de Testemunhas de Jeová; queriam acompanhá-lo por todo o lado, sim, mas no sentido aborrecido e irritante da palavra, empenhados em convertê-lo. «Eu estou convertido! Eu sou o filho! Pertenço à Santíssima Trindade», insistia...

Teve de lhes fugir.

Mais tarde, foi inquirido por uns senhores das Finanças que alegavam ter recebido uma denúncia de um tal Fernando Pessoa, que dizia que ele, Jesus Cristo, não pereceberia nada de finanças. E que, portanto - deduziam eles -, não se tinha declarado como mágico, nem pagava imposto sobre milagres.Descobriram até que ponto Pessoa estava certo. Preparavam-se já para lhe confiscar tudo o que possuía. Umas sandálias e, ao que parece, a sua Omnipotência - a qual, contudo, em Portugal esbarra com diversos entraves! E julgo que não pode ser exercida sem a devida autorização e documento comprovativo de divindade, isto na versão simplex...

À noite, quando se orientava de modo a retornar à Pensão Florinda, onde se albergara, foi detido por dois senhores vestidos de negro, com viseira e escudo.
Eram agentes da ASAE: acusavam-no de não ter respeitado as medidas mínimas de higiene e segurança na forma como transformara uma série de pedras e de calhaus, sujíssimos, em sardinhas para uma multidão. Ainda por cima, as referidas sardinhas teriam sido grelhadas em grelhadores de zinco, que também não obedeciam a quaisquer normas.

As últimas pessoas que o viram, relatam estas palavras, que teria pronunciado:

- Pai! Agora é que vais ter de afastar de mim este cálice, que isto está mais bera do que no tempo dos Romanos!

Não tornou a ser visto.

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