Contra a praga de rapazes que andam aí furtando veículos, tenho andado a pensar num engenho que, simultanemente, colocaria os carros alheios, diante dos seus olhos, como fruta tentadora, obrigando-os a escolher entre o caminho do Bem e o do Mal, e trataria de punir no mesmo momento os que preferissem o caminho do Mal. Em que consiste? Numa chave que deixaríamos propositadamente na ranhura da porta do automóvel, com todo o ar de que o condutor aí a tivesse deixado por esquecimento (como às vezes me sucede): o ladrãozeco que pensasse «Olha, este facilita-me a vida» e tocasse na chave sofreria, de imediato, uma descarga eléctrica de que se não esqueceria.
Esta boa ideia pode ter uma previsível má consequência: esquecido como sou, pensaria muitas vezes «Olha, lá me esqueci outra vez da chave na porta do carro», e zzzzzzzzzzzzzzzt!!!
A Daisy dizia-me, no outro dia «Pai, caí!»; perguntei-lhe: «Caíste, filha? Onde?»; resposta: «Na rua!»; estranhando que pudesse ter ido à rua nesse dia, quis saber: «Ah sim? E que estavas tu a fazer na rua?»; retorquiu-me: «A cair!»
O que me faz recordar uma outra vez em que, em Espanha, tentando perceber se Daisy identificava o país onde se encontrava, o meu amigo M. lhe perguntou: «Olha, olha, diz lá! Onde tás tu?!»; ao que ela respondeu, com toda a simplicidade: «Aqui!»
O gosto é a coisa mais bem partilhada do mundo. Não conheço ninguém que não tenha gosto: trata-se, na maior parte dos casos, de mau gosto.
Redacção: O Dia do Pai.
Ontem, Dia do Pai, haviam-me pedido que fosse buscar mais cedo a Daisy ao infantário para «brincar com ela».
Fui.
Pelo caminho, cruzei-me com um pai de orelhas de cavalo em cartão e o filho cavalgando-lhe às costas. Vinham, justamente, do infantário. Havia outros pais em semelhantes figuras. Andavam numa espécie de Rally-pepper. Principiei a ver a minha vida a andar para trás.
Entrando corajosamente no antro, deparei com uma mesa carregada de comida. Aproximei-me, esfregando as mãos.
Uma Educadora barrou-me, mal-educadamente, o caminho:
«Isto é para os pais da sala M».
Retirei-me, envergonhado, em busca de Daisy.
Daisy fugiu de mim, assim que me viu.
Uma Educadora enfiou-me um garruço de lã e um cachecol. Fomos fazer um boneco de neve num tecido branco. Para a fotografia.
Depois, noutro local, colocaram-me uma boina, um colete e uma faixa e pediram-me que fosse dançarinhar com a minha filha. Para a fotografia.
Fui. Tirando que a minha filha não queria dançar. E fugia-me, enquanto a senhora esperava, pacientemente, de máquina em riste, e eu a caçava, de boina, colete e faixa.
Cheguei a casa um bocado arrasado.
sexta-feira, março 20, 2009
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1 comentário:
:) Voltei...só para dizer que me deliciei. Já está!
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