quinta-feira, julho 22, 2010

O CONCURSO DE VERÃO

DN e JN estão ambos publicando, em conjunto, às 3ªs, 5ªs, sábados e domingos, aquilo a que chamam um conjunto de Autores Clássicos da Literatura.

Poderíamos dizer que, simultaneamente, a lista desses autores seleccionados, e de que vão editando obras-primas, tem de ser encarada como um teste, um passatempo, qualquer coisa ao género de «Descubra o Intruso» ou «Que Objecto Não Pertence a esta Série?».

Poderia explicar melhor, mas basta-me apresentar a série:

Lewis Carroll
Oscar Wilde
Eduardo Pitta
Prosper Mérimée
Machado de Assis
Victor Hugo
Carlos Quiroga
Patrick Süskind
Walter Scott
Eça de Queirós
R. L. Stevenson
Marguerite Duras
Leão Tolstoi
Alexandre Herculano
Enid Meadowcroft
Sheridan Le Fanu
Joseph Conrad
Fialho de Almeida
Herman Broch
Arthur Schnitzler
Fiodor Dostoievski
Antoine Saint-Exupéry
D.H. Lawrence
Edgar Allan Poe
Jorge Luís Borges
Henry James
Bram Stoker.

Se quisermos excluir à partida os autores estrangeiros, ficamos com os seguintes portugueses: Eduardo Pitta, Eça de Queirós, Alexandre Herculano, Fialho de Almeida. O único contemporâneo ou, pelo menos, o autor vivo que consta é, portanto, um senhor chamado Eduardo Pitta. Não Gonçalo M. Tavares (que poderia já ser considerado um «clássico»), não José Luís Peixoto - ou, entre os mais antigos, Mário de Carvalho. (Já não falo de Agustina). Não: Eduardo Pitta. Por que diabo!? A que propósito!? Segundo que critério? Com que argumento!?

Fico indignado. Tento explicar, ao meu filho, a razão desta indignação. «Não vejo outra explicação, senão que o homem tenha sido o próprio responsável pela lista, ou seja amigo ou amante de alguém...»

Meu filho ainda ensaia: «Mas, pai, não pode ser uma questão de gosto? Tu não gostares, mas o senhor que decidiu, achar que é muito bom, tal como tu admitirias o Gonçalo Tavares, que o senhor pode achar que é muito mau?»

Como explicar-lhe que, se o critério é uma lista de "clássicos", Eduardo Pitta não cabe de jeito nenhum, por muitas voltas que se dêem, por critérios dúbios que se inventem? Como explicar-lhe que não faz sentido juntar-se, numa lista de "clássicos" da Literatura, Eduardo Pitta e, por exemplo, Victor Hugo?

«Victor Hugo Cardinalli?», pergunta-me o miúdo. «O dos circos? Olha, eu nem sabia que esse escrevia "clássicos"...»

E eu, frustrado e vencido, calo-me. Calo-me!

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